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segunda-feira, novembro 24, 2003

Novamente o pecado original 

Há já algum tempo fui violentamente verberado por um leitor atento, pelo facto de "ter ousado pôr em causa a concepção agostiniana do pecado original". Posso dizer que foi o primeiro hatemail teológico que alguma vez recebi...são as novas tecnologias ao serviço do anátema.
Desde então tenho procurado não só recompôr-me como também encontrar alguma base teológica para a minha concepção desse pecado, a qual me parece tão simples que só pode ser verdadeira.
Um texto de Frei Bento Domingues pôs-me finalmente na pista duma tal Carta a Diogneto, considerada uma jóia da literatura cristã primitiva, segundo alguns datada de 200 DC, escrita por um cristão de Alexandria, ou seja 200 anos mais próxima da Revelação original do que Agostinho.
Vou dedicar ao referido e zeloso leitor a transcrição do capítulo XII - A verdadeira ciência:
"Aproximai-vos, ouvi docilmente, e sabereis tudo aquilo que Deus outorga àqueles que O amam verdadeiramente. Eles tornam-se um jardim de delícias; uma árvore carregada de frutos, com seiva vigorosa, cresce neles, e são assim ornados dos mais ricos frutos. Porque é esse verdadeiramente o terreno onde foram plantadas a árvore da ciência e a árvore da vida; mas não é a árvore da ciência que mata: é antes a desobediência que o faz. Porque não é sem razão que foi escrito que Deus, no início, plantou no meio do Jardim a árvore da ciência e a árvore da vida, mostrando-nos na ciência o acesso à vida. Os primeiros homens, que não souberam usá-la bem, foram colocados nus pela impostura da serpente. Porque não há vida sem ciência, nem ciência certa sem a vida verdadeira: esta é a razão pela qual as duas árvores foram plantadas uma junto da outra. O Apóstolo viu bem este sentido quando, acusando a ciência que se exerce sem obedecer aos preceitos de vida dados pela Verdade, disse: «A ciência incha, mas o amor edifica». Porque aquele que crê saber qualquer coisa sem a verdadeira ciência, aquela de quem a vida dá testemunho, não sabe nada, na verdade: a serpente engana-o porque ele não amou a vida. Mas aquele em quem a ciência é acompanhada de temor e que procura ardentemente a vida, esse planta na esperança e pode esperar frutos. Que a esperança se identifique com o teu coração; que o Verbo da verdade, recebido em ti, se torne a tua vida. Se esta árvore crescer em ti e se desejares o seu fruto, não cessarás de recolher o que se costuma receber de Deus, aquilo que a serpente não soube esperar nem a impostura pôde infectar. Eva já não é mais uma seduzida, mas permanecendo virgem, proclama a sua fé. A salvação mostra-se, os Apóstolos compreendem, a Páscoa do Senhor aproxima-se, os tempos cumprem-se, a ordem cósmica estabelece-se, o Verbo compraz-Se em ensinar os santos, e por Ele o Pai é glorificado, e a quem seja dada glória pelos séculos dos séculos."
Fico muito mais descansado...

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