segunda-feira, novembro 17, 2003
O nosso papel
Caríssimo CC,
Estaremos nós aqui transpondo para a blogosfera os antigos usos epistolares dos primeiros cristãos? Seria engraçado e proveitoso ver católicos, evangélicos, presbiterianos, pentecostais, etc. a discutirem aqui a sua Fé e a chegarem de novo à grande conclusão de Agostinho: "unidade no essencial, liberdade no acessório, amor em tudo"! Teríamos apenas que evitar profilaticamente o terrível odium theologicum, que deitaria por terra todas as nossas boas intenções.
Quanto ao seu excelente post e concordando com tudo o que você escreve, eu diria que a Boa Nova de Jesus é sobretudo uma mensagem de Vida, com tudo o que ela comporta. É anúncio de alegria porque ensinando-nos a nossa condição de Filhos de Deus e de irmãos uns dos outros, nos ensina a retirar de tudo o que nos aconteça, de bom e de mau, a nós próprios e ao nosso próximo, um incentivo mais para nos aproximarmos do Pai. A mensagem de Cristo não glorifica o sofrimento mas ensina-nos a transformá-lo em algo de positivo, de redentor. Pega na experiência do sofrimento e anula-o, transformando-o em fonte de Vida para nós e para os outros. Esse é para mim o significado profundo da paixão e morte de Cristo.
Concordo absolutamente que não basta à Igreja e aos Cristãos explicar isto àqueles que sofrem. É necessário apontar as injustiças do mundo, apontar a dedo aqueles que fazem sofrer, apelar à consciência das pessoas, estar do lado dos últimos entre os últimos. Agora este estar ao lado não significa para mim envolver a Igreja nos meandros da política profana onde, como bem sabe, é tão fácil perdermos de vista as causas que para lá nos levaram.
Estar ao lado dos últimos é mesmo estar ao lado deles. É ficar de mão dada a alguém que está a morrer sozinho, é apertar a mão ao arrumador toxicodependente que nos arranjou um bom lugar, em vez de lhe atirar de longe um eurito. É ouvir o próximo que chora, é chorar também com ele.
Caro amigo e irmão, o que eu quero dizer é que para além da enorme responsabilidade moral, social e política que nós Igreja temos, existe um outro aspecto que tantas vezes é menosprezado e até ridicularizado, mas que é infinitamente mais difícil, mais exigente do que clamar contra as injustiças. É a chamada caridade, a acção social, que tantos acham ser um mero paliativo mas que é imensamente mais do que isso. Num mundo em que tão fácil é comunicar, protestar, clamar contra a injustiça, felizes são os nossos irmãos que, sem alarde, só por amor, estão junto das vítimas, dos excluídos, dos últimos.
Mais não digo porque reconheço, envergonhado, que também aí não vivo de acordo com as minhas convicções e responsabilidades de cristão.
Estaremos nós aqui transpondo para a blogosfera os antigos usos epistolares dos primeiros cristãos? Seria engraçado e proveitoso ver católicos, evangélicos, presbiterianos, pentecostais, etc. a discutirem aqui a sua Fé e a chegarem de novo à grande conclusão de Agostinho: "unidade no essencial, liberdade no acessório, amor em tudo"! Teríamos apenas que evitar profilaticamente o terrível odium theologicum, que deitaria por terra todas as nossas boas intenções.
Quanto ao seu excelente post e concordando com tudo o que você escreve, eu diria que a Boa Nova de Jesus é sobretudo uma mensagem de Vida, com tudo o que ela comporta. É anúncio de alegria porque ensinando-nos a nossa condição de Filhos de Deus e de irmãos uns dos outros, nos ensina a retirar de tudo o que nos aconteça, de bom e de mau, a nós próprios e ao nosso próximo, um incentivo mais para nos aproximarmos do Pai. A mensagem de Cristo não glorifica o sofrimento mas ensina-nos a transformá-lo em algo de positivo, de redentor. Pega na experiência do sofrimento e anula-o, transformando-o em fonte de Vida para nós e para os outros. Esse é para mim o significado profundo da paixão e morte de Cristo.
Concordo absolutamente que não basta à Igreja e aos Cristãos explicar isto àqueles que sofrem. É necessário apontar as injustiças do mundo, apontar a dedo aqueles que fazem sofrer, apelar à consciência das pessoas, estar do lado dos últimos entre os últimos. Agora este estar ao lado não significa para mim envolver a Igreja nos meandros da política profana onde, como bem sabe, é tão fácil perdermos de vista as causas que para lá nos levaram.
Estar ao lado dos últimos é mesmo estar ao lado deles. É ficar de mão dada a alguém que está a morrer sozinho, é apertar a mão ao arrumador toxicodependente que nos arranjou um bom lugar, em vez de lhe atirar de longe um eurito. É ouvir o próximo que chora, é chorar também com ele.
Caro amigo e irmão, o que eu quero dizer é que para além da enorme responsabilidade moral, social e política que nós Igreja temos, existe um outro aspecto que tantas vezes é menosprezado e até ridicularizado, mas que é infinitamente mais difícil, mais exigente do que clamar contra as injustiças. É a chamada caridade, a acção social, que tantos acham ser um mero paliativo mas que é imensamente mais do que isso. Num mundo em que tão fácil é comunicar, protestar, clamar contra a injustiça, felizes são os nossos irmãos que, sem alarde, só por amor, estão junto das vítimas, dos excluídos, dos últimos.
Mais não digo porque reconheço, envergonhado, que também aí não vivo de acordo com as minhas convicções e responsabilidades de cristão.