quarta-feira, maio 26, 2004
O judaísmo, novamente
Já aqui falei da admiração que tenho pelo povo judeu, pelo seu património ético e pela importância que o judaísmo, enquanto religião, tem no corpo da minha fé cristã. Acho simplesmente impossível ser-se cristão em consciência descartando a tradição religiosa judaica, não apenas como contexto onde o surgiu o cristianismo mas sobretudo como fazendo parte duma matriz comum alargada e profunda.
Também já aqui falei da minha preocupação pelos caminhos que o judaísmo anda a tomar ultimamente. Em conversas com o Nuno Guerreiro, umas via posts, outras via mail tenho reflectido sobre as novas formas de anti-semitismo e sobre as suas origens. Numa conversa à exactamente dois meses, perguntei-lhe se a origem desse novo anti-semitismo não deveria ser procurada, pelo menos em boa parte, na forma actual como Israel está a ser governado.
Foi por isso que li com muito interesse este artigo no Público de Domingo passado. Falava da reunião em Budapeste das comunidades judaicas europeias sobre os novos anti-semitismos. Vou apenas citar uns trechos mas aconselho a leitura integral do artigo:
(...)Uma Europa sem judeus seria uma Europa mutilada. Não tanto pela culpa de séculos de anti-semitismo e do "paroxismo do mal" no Holocausto. Mas porque eles pertencem à Europa e porque as suas elites, as mais europeias de todas e desde sempre, deram à cultura ocidental um contributo revolucionário.(...)
Declina o velho anti-semitismo, cristão e de direita, e emerge um outro, sob novas roupagens: através de jovens muçulmanos, eles são também objecto de racismo; através de sectores de extrema-esquerda "anti-globalização", que conjugam um virulento anti-americanismo com uma não menos violenta "judeofobia"; e ainda entre grupos cristãos terceiro-mundistas(...)
Para o jornalista e escritor alemão Josef Joffe, "o anti-semitismo clássico europeu desapareceu. (...) e está em plena expansão o anti-semitismo conceptual. Ele consiste em acusar Israel e os judeus que o apoiam de encarnar o imperialismo, o colonialismo, a vontade de dominação e de perversão da humanidade". (...)
Ao mesmo tempo, sublinha Wieviorka, ocorre outro fenómeno: "Nos últimos 30 anos, no seio da diáspora, designadamente em França e nos Estados Unidos, os judeus acentuaram a sua etnização. Visíveis no espaço público, exibem claramente o seu apoio não só ao Estado de Israel, mas também à sua política actual." O que reforça a amálgama. "De solução, Israel tornou-se problema para os judeus da diáspora".
"Abriu-se uma dialéctica infernal", escreve o filósofo Edgar Morin. "O anti-israelismo aumenta a solidariedade entre os judeus da diáspora e Israel. O próprio Israel quer mostrar aos judeus da diáspora que o velho antijudaísmo europeu é de novo virulento e que a única pátria dos judeus é Israel, exacerbando o temor dos judeus e a sua identificação com Israel." E o anátema de anti-semitismo serve para ocultar a repressão e proteger Israel de qualquer crítica.(...)
(...)o jornalista Daniel Ben-Simon interrogava-se no "Ha'aretz" sobre o "não-dito" de todo o encontro: "Haverá alguma verdade na acusação que se espalha nos círculos académicos, intelectuais e políticos de que a pessoa que, de facto, ateia o fogo do novo anti-semitismo é exactamente o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon?"
Muitas vezes a origem dos nossos problemas está em nós próprios. Muitas vezes também está nos outros. Normalmente a origem dos problemas está nos dois lados. Para resolver problemas e prevenir catástrofes há sempre que saber discernir sabiamente, desapaixonadamente, de onde eles vem e de onde elas podem chegar.
Haja pois sabedoria e que ela suplante o fanatismo. A bem do judaísmo e de toda a Humanidade.
Também já aqui falei da minha preocupação pelos caminhos que o judaísmo anda a tomar ultimamente. Em conversas com o Nuno Guerreiro, umas via posts, outras via mail tenho reflectido sobre as novas formas de anti-semitismo e sobre as suas origens. Numa conversa à exactamente dois meses, perguntei-lhe se a origem desse novo anti-semitismo não deveria ser procurada, pelo menos em boa parte, na forma actual como Israel está a ser governado.
Foi por isso que li com muito interesse este artigo no Público de Domingo passado. Falava da reunião em Budapeste das comunidades judaicas europeias sobre os novos anti-semitismos. Vou apenas citar uns trechos mas aconselho a leitura integral do artigo:
(...)Uma Europa sem judeus seria uma Europa mutilada. Não tanto pela culpa de séculos de anti-semitismo e do "paroxismo do mal" no Holocausto. Mas porque eles pertencem à Europa e porque as suas elites, as mais europeias de todas e desde sempre, deram à cultura ocidental um contributo revolucionário.(...)
Declina o velho anti-semitismo, cristão e de direita, e emerge um outro, sob novas roupagens: através de jovens muçulmanos, eles são também objecto de racismo; através de sectores de extrema-esquerda "anti-globalização", que conjugam um virulento anti-americanismo com uma não menos violenta "judeofobia"; e ainda entre grupos cristãos terceiro-mundistas(...)
Para o jornalista e escritor alemão Josef Joffe, "o anti-semitismo clássico europeu desapareceu. (...) e está em plena expansão o anti-semitismo conceptual. Ele consiste em acusar Israel e os judeus que o apoiam de encarnar o imperialismo, o colonialismo, a vontade de dominação e de perversão da humanidade". (...)
Ao mesmo tempo, sublinha Wieviorka, ocorre outro fenómeno: "Nos últimos 30 anos, no seio da diáspora, designadamente em França e nos Estados Unidos, os judeus acentuaram a sua etnização. Visíveis no espaço público, exibem claramente o seu apoio não só ao Estado de Israel, mas também à sua política actual." O que reforça a amálgama. "De solução, Israel tornou-se problema para os judeus da diáspora".
"Abriu-se uma dialéctica infernal", escreve o filósofo Edgar Morin. "O anti-israelismo aumenta a solidariedade entre os judeus da diáspora e Israel. O próprio Israel quer mostrar aos judeus da diáspora que o velho antijudaísmo europeu é de novo virulento e que a única pátria dos judeus é Israel, exacerbando o temor dos judeus e a sua identificação com Israel." E o anátema de anti-semitismo serve para ocultar a repressão e proteger Israel de qualquer crítica.(...)
(...)o jornalista Daniel Ben-Simon interrogava-se no "Ha'aretz" sobre o "não-dito" de todo o encontro: "Haverá alguma verdade na acusação que se espalha nos círculos académicos, intelectuais e políticos de que a pessoa que, de facto, ateia o fogo do novo anti-semitismo é exactamente o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon?"
Muitas vezes a origem dos nossos problemas está em nós próprios. Muitas vezes também está nos outros. Normalmente a origem dos problemas está nos dois lados. Para resolver problemas e prevenir catástrofes há sempre que saber discernir sabiamente, desapaixonadamente, de onde eles vem e de onde elas podem chegar.
Haja pois sabedoria e que ela suplante o fanatismo. A bem do judaísmo e de toda a Humanidade.