sexta-feira, maio 28, 2004
Variações sobre Daniel Faria
No fim de uma semana para esquecer deu-me uma coisa rara. Poesia.
Homens que vão ficar mal situados
Homens que vão ficar com as vidas paradas
Que vão ficar fora dos mapas
Que vão ficar sem horários
Como que com os pés fora do chão
Com crianças quase órfãs
Homens agitados sem sítio onde pousar
Homens que irão ter fronteiras em suas vidas
Que irão por caminhos esburacados
Homens que querem passar por atalhos inventados
Homens separados de outros destinos
Desempregados das suas vidas
Homens que sobram após a negação das estratégias
Que andarão escondidos como maus artistas
Homens encarcerados fechando-se nas cascas
Homens que terão danos inconfessados
Homens que são sobreviventes viúvos
Homens que foram tirados
Do lugar
Homens que tinham projectos de casas
Com varandas, viradas para o rio
Homens nas esplanadas virados para a velhice
Muito danificados pelas intempéries
Homens cheios de energia ligados à terra
Parados à espera
De um recomeço possível para o eu interior
Homens revoltados por modo de ser
Um olhar fixo sem ver nada caminhando ao encontro
De si mesmo
Homens tão preparados tão prevenidos
Para o que der e vier
Homens ao vento com as mãos nos olhos
Sonhando regressos
Homens fazendo lume
Para fumar limpar o rosto e fechar os olhos
Tão impreparados afinal tão desprevenidos
Tão confusos à espera de um oásis qualquer
Onde lhes seja possível uma sombra ter
Homens que trabalharam sob a lâmpada
Do fim mas acreditaram
Que escavam nessa luz para ver quem ilumina
O meio dos seus dias
Homens há muito dobrados pelo pensamento
Que viveram devagar e quiseram correr
As persianas
Para ver no escuro como era o presente
Homens que tapam dia após dia o sofrimento
Que percorrem na sombra uma demanda cerebral
Que chutam a pedra da loucura fechando as pupilas
Homens pálidos que abrem caminho
À procura dessa pedra temida
Homens de cabeça aberta condenada ao pensamento
Livre. Que vêm lentamente procurar
Um lugar onde amanheça.
Homens que se sentam para ver uma manhã
Que esperam o seu lugar
Para a saída.
(adaptado de 'Homens que são como lugares mal situados', Daniel Faria in Poesia, 2003)
Ver poema original aqui.
Até segunda.
Homens que vão ficar mal situados
Homens que vão ficar com as vidas paradas
Que vão ficar fora dos mapas
Que vão ficar sem horários
Como que com os pés fora do chão
Com crianças quase órfãs
Homens agitados sem sítio onde pousar
Homens que irão ter fronteiras em suas vidas
Que irão por caminhos esburacados
Homens que querem passar por atalhos inventados
Homens separados de outros destinos
Desempregados das suas vidas
Homens que sobram após a negação das estratégias
Que andarão escondidos como maus artistas
Homens encarcerados fechando-se nas cascas
Homens que terão danos inconfessados
Homens que são sobreviventes viúvos
Homens que foram tirados
Do lugar
Homens que tinham projectos de casas
Com varandas, viradas para o rio
Homens nas esplanadas virados para a velhice
Muito danificados pelas intempéries
Homens cheios de energia ligados à terra
Parados à espera
De um recomeço possível para o eu interior
Homens revoltados por modo de ser
Um olhar fixo sem ver nada caminhando ao encontro
De si mesmo
Homens tão preparados tão prevenidos
Para o que der e vier
Homens ao vento com as mãos nos olhos
Sonhando regressos
Homens fazendo lume
Para fumar limpar o rosto e fechar os olhos
Tão impreparados afinal tão desprevenidos
Tão confusos à espera de um oásis qualquer
Onde lhes seja possível uma sombra ter
Homens que trabalharam sob a lâmpada
Do fim mas acreditaram
Que escavam nessa luz para ver quem ilumina
O meio dos seus dias
Homens há muito dobrados pelo pensamento
Que viveram devagar e quiseram correr
As persianas
Para ver no escuro como era o presente
Homens que tapam dia após dia o sofrimento
Que percorrem na sombra uma demanda cerebral
Que chutam a pedra da loucura fechando as pupilas
Homens pálidos que abrem caminho
À procura dessa pedra temida
Homens de cabeça aberta condenada ao pensamento
Livre. Que vêm lentamente procurar
Um lugar onde amanheça.
Homens que se sentam para ver uma manhã
Que esperam o seu lugar
Para a saída.
(adaptado de 'Homens que são como lugares mal situados', Daniel Faria in Poesia, 2003)
Ver poema original aqui.
Até segunda.