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sexta-feira, setembro 24, 2004

Antigo Testamento 

Há cerca de 15 anos houve um livro que me reavivou uma religiosidade quase perdida: "Gaspar, Belchior e Baltasar" de Michel Tournier (ed.pela D.Quixote). Conta sobretudo a histórica de Taor, o mítico 4º rei mago, que chegando atrasado ao Menino, andou toda uma vida pela Palestina à procura Dele e finalmente encontra-o já à beira do Calvário, morrendo quase ao mesmo tempo que Ele. Em Dezembro do ano passado já aqui tinha falado deste Taor.
Mas não é dele que venho falar, é mesmo do livro de Tournier que nos conta também dos outros magos. É um livro belíssimo que me puz a reler dum trago esta semana. E queria então partilhar uns trechos que ontem como há 15 anos me marcaram.

Depois (Baltasar) ergueu-se e pronunciou umas palavras que retive apesar da sua obscuridade:
- Nunca será demais meditar nas primeiras linhas do Génesis: Deus fez o homem à sua imagem e semelhança. Porquê estas duas palavras? Que diferença haverá entre imagem e semelhança? É que, sem dúvida, a semelhança compreende todo o ser - corpo e alma - enquanto que a imagem não é mais do que uma máscara superficial e talvez enganadora. Durante o tempo que o homem permaneceu tal como Deus o fizera, a sua alma divina transverberava a sua máscara de carne, porque era puro e simples como um lingote de ouro. Nessa altura a imagem e semelhança proclamavam em conjunto um único e mesmo atestado de origem. Podiam dispensar-se as duas palavras distintas. Mas desde que o homem pecou, desde que tentou através de mentiras escapar à severidade de Deus, a sua semelhança com o seu criador desapareceu, não ficando mais do que o seu rosto, pequena imagem enganosa que lembrava, apesar de tudo, uma origem longínqua, escarnecida, mas não de todo apagada. Concebe-se todavia a maldição que fustiga o rosto do homem através da pintura e da escultura: estas artes fazem-se cúmplices de uma impostura celebrando e propagando uma imagem sem semelhança. (...) Talvez um dia o homem caído seja resgatado por um salvador. Então a sua semelhança restaurará a imagem(...)


Tendo sido criados à imagem de Deus, fomos semelhantes a Ele até ao momento que deixámos de o ser. Cristo, Deus encarnado, veio junto de nós, para atestar que a condição humana pode aspirar de novo à semelhança com Deus. Por forma a que as duas palavras voltem a significar o mesmo. Por forma a que "Deus seja um connosco e nós com ele".


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