quarta-feira, junho 30, 2004
É pá, grande nº da Terra!
É dedicado à problemática da Saúde. Onde o Carlos, infuenciado já certamente pelo seu amigo João Cruz nos fala da sua cardiopatia. Onde o Fernando desenvolve a semiótica das armações na oftalmologia. Onde o Miguel fala das gravidezes precoces e da educação e moral sexual. Onde o Tim nos fala dum dos grandes problemas de hoje, que amargam a existência dos nossos professores: a falta de atenção. Eu é que destoei e fiquei-me pela semântica.
Agora a sério, algumas grandes frases a destacar:
'Julgo que a prática do Mal por negligência ou omissão decorre apenas de uma incapacidade: a incapacidade de atenção. Por vezes a prática do Mal é, simplesmente, falta de atenção, falta de uma atenção sistemática e profunda, que se pratique segundo a segundo e que nos leve a reflectir permanentemente sobre o outro e as suas necessidades, por um lado, e, por outro lado, sobre o modo como a nossa disponibilidade pode ajudar ao máximo a prevenir ou a minorar o sofrimento dos outros.' (Tim)
'Na fé que procuro alcançar, o Reino de Deus é uma utopia de libertação absoluta, cuja exigência foi paga por Jesus com a morte. A conversão de cada um implica uma radical mudança do modo de pensar e de agir no sentido de Deus, na construção de uma nova ordem, de um novo sentido de vida que responda aos anseios mais profundos do homem.' (Carlos)
'Hoje, como há 11 anos, a valorização positiva do prazer e do sexo continua a ser tabu para o clero e, muitas vezes, vergonha para os leigos. No Verão quente, a Igreja continua a vestir roupas de Inverno e a discutir o sexo dos anjos.' (Miguel)
'Entretanto, se estes são importantes dados semióticos, este texto não visa investigá-los desse modo. Visa perguntar: quando um oculista coloca a um padre uma série de óculos e se entre eles estiver um par que lembra os óculos de Tarantino, o que deve fazer? – Deve escolhê-los? – Deve recusá-los? – Se os escolhe, sucumbiu à cultura do tempo? – Ou apenas a utiliza?' (Fernando)
Agora a sério, algumas grandes frases a destacar:
'Julgo que a prática do Mal por negligência ou omissão decorre apenas de uma incapacidade: a incapacidade de atenção. Por vezes a prática do Mal é, simplesmente, falta de atenção, falta de uma atenção sistemática e profunda, que se pratique segundo a segundo e que nos leve a reflectir permanentemente sobre o outro e as suas necessidades, por um lado, e, por outro lado, sobre o modo como a nossa disponibilidade pode ajudar ao máximo a prevenir ou a minorar o sofrimento dos outros.' (Tim)
'Na fé que procuro alcançar, o Reino de Deus é uma utopia de libertação absoluta, cuja exigência foi paga por Jesus com a morte. A conversão de cada um implica uma radical mudança do modo de pensar e de agir no sentido de Deus, na construção de uma nova ordem, de um novo sentido de vida que responda aos anseios mais profundos do homem.' (Carlos)
'Hoje, como há 11 anos, a valorização positiva do prazer e do sexo continua a ser tabu para o clero e, muitas vezes, vergonha para os leigos. No Verão quente, a Igreja continua a vestir roupas de Inverno e a discutir o sexo dos anjos.' (Miguel)
'Entretanto, se estes são importantes dados semióticos, este texto não visa investigá-los desse modo. Visa perguntar: quando um oculista coloca a um padre uma série de óculos e se entre eles estiver um par que lembra os óculos de Tarantino, o que deve fazer? – Deve escolhê-los? – Deve recusá-los? – Se os escolhe, sucumbiu à cultura do tempo? – Ou apenas a utiliza?' (Fernando)
segunda-feira, junho 28, 2004
Nós somos filhos, não somos herdeiros
O que me torna afim, o que me motiva, é, cada vez mais, ver um outro espírito a dizer, de forma luminosa, algo que sinto também profundamente. Aconteceu-me isso hoje de manhã ao ler o texto de ontem do Frei Bento Domingues a marimbar-se completamente para a seca polémica da referência à herança cristã na constituição europeia. Vou então citar o bom Frei Bento e citá-lo em abundância, pois o que ele escreveu é simplesmente brilhante:
No preâmbulo do Tratado Constitucional da União Europeia ficou assumida "a herança cultural, religiosa e humanista da Europa" (...) Seria ridículo, no entanto, considerar o texto do referido preâmbulo como uma derrota do cristianismo. Um enigmático trecho do Evangelho de S. Lucas, lido na Eucaristia do domingo passado, levantou-me uma questão muito elementar: que entendem por "herança cristã" quer os apoiantes quer os adversários da sua inclusão no tratado constitucional europeu? (...)Na herança de Israel, além do messianismo religioso-político, havia várias outras tendências fortemente contrastadas e em contínua mudança sobre a forma como o Messias se devia manifestar e agir. Nenhum desses modelos se ajustava, porém, à significação que Jesus imprimiu ao seu modo de agir e de falar. Nenhum deles correspondia sobretudo àquilo de que o mundo mais precisava. A partir da sua experiência do Amor infinito e do seu contacto diário com os mal-amados deste mundo, viu que era preciso alterar até à raiz a relação do homem com Deus, a relação de cada um consigo mesmo e com os próprios inimigos. Esta é a essência da sua pregação sobre o Reino de Deus: uma semente, um fermento para mudar a direcção da vida e a própria vida.
Jesus não morreu de velho, de doença ou de um acidente. Foi morto por tentar romper com os esquemas que atam os homens à lógica da dominação. Na sua morte, acompanhado pela compaixão e pelo perdão aos inimigos, abriu o caminho para a reunião de todos os filhos de Deus dispersos pela ambição, pela intolerância e pelo ódio. Introduziu na história humana o fermento de uma outra lógica: a da compaixão, do perdão e da solidariedade.
Quem, como Jesus, perde a vida para não trair o sentido da vida como dom incondicional para a alegria de todos, ajuda a transformar radicalmente o fundamento da esperança e do messianismo. O futuro não pertence àqueles que matam, mas a quem dá a vida pelos outros: quem perde, ganha; quem teima em ganhar à custa dos outros já está perdido.(...)
Para Alexksandr Men, morto na Rússia em 1990, só homens muito limitados podem imaginar que o cristianismo já está concluído. Na realidade, só deu os primeiros passos, passos tímidos na história do género humano. A história do cristianismo está sempre a começar. Tudo o que foi conseguido no passado, tudo aquilo que agora chamamos história do cristianismo, não é mais do que um conjunto de tentativas - algumas em falso, outras mal conseguidas - para o realizar.
A essência do cristianismo não é a conserva de uma herança, a salvaguarda de um passado: "Quem olha para trás depois de deitar a mão ao arado, não está apto para o Reino dos Céus", diz-nos Cristo na Missa de hoje (Lucas 9,62). Os chamados "conservadores cristãos" são os guardas ruidosos de um túmulo vazio.
Isto não pode estar mais bem visto!
Herança? Isso é o que se recebe de quem morreu...E Cristo vive ainda hoje em nós. Sendo assim falar-se em herança cristã só se percebe na boca de ateus e herdeiros, esses sim, do iluminismo...
No preâmbulo do Tratado Constitucional da União Europeia ficou assumida "a herança cultural, religiosa e humanista da Europa" (...) Seria ridículo, no entanto, considerar o texto do referido preâmbulo como uma derrota do cristianismo. Um enigmático trecho do Evangelho de S. Lucas, lido na Eucaristia do domingo passado, levantou-me uma questão muito elementar: que entendem por "herança cristã" quer os apoiantes quer os adversários da sua inclusão no tratado constitucional europeu? (...)Na herança de Israel, além do messianismo religioso-político, havia várias outras tendências fortemente contrastadas e em contínua mudança sobre a forma como o Messias se devia manifestar e agir. Nenhum desses modelos se ajustava, porém, à significação que Jesus imprimiu ao seu modo de agir e de falar. Nenhum deles correspondia sobretudo àquilo de que o mundo mais precisava. A partir da sua experiência do Amor infinito e do seu contacto diário com os mal-amados deste mundo, viu que era preciso alterar até à raiz a relação do homem com Deus, a relação de cada um consigo mesmo e com os próprios inimigos. Esta é a essência da sua pregação sobre o Reino de Deus: uma semente, um fermento para mudar a direcção da vida e a própria vida.
Jesus não morreu de velho, de doença ou de um acidente. Foi morto por tentar romper com os esquemas que atam os homens à lógica da dominação. Na sua morte, acompanhado pela compaixão e pelo perdão aos inimigos, abriu o caminho para a reunião de todos os filhos de Deus dispersos pela ambição, pela intolerância e pelo ódio. Introduziu na história humana o fermento de uma outra lógica: a da compaixão, do perdão e da solidariedade.
Quem, como Jesus, perde a vida para não trair o sentido da vida como dom incondicional para a alegria de todos, ajuda a transformar radicalmente o fundamento da esperança e do messianismo. O futuro não pertence àqueles que matam, mas a quem dá a vida pelos outros: quem perde, ganha; quem teima em ganhar à custa dos outros já está perdido.(...)
Para Alexksandr Men, morto na Rússia em 1990, só homens muito limitados podem imaginar que o cristianismo já está concluído. Na realidade, só deu os primeiros passos, passos tímidos na história do género humano. A história do cristianismo está sempre a começar. Tudo o que foi conseguido no passado, tudo aquilo que agora chamamos história do cristianismo, não é mais do que um conjunto de tentativas - algumas em falso, outras mal conseguidas - para o realizar.
A essência do cristianismo não é a conserva de uma herança, a salvaguarda de um passado: "Quem olha para trás depois de deitar a mão ao arado, não está apto para o Reino dos Céus", diz-nos Cristo na Missa de hoje (Lucas 9,62). Os chamados "conservadores cristãos" são os guardas ruidosos de um túmulo vazio.
Isto não pode estar mais bem visto!
Herança? Isso é o que se recebe de quem morreu...E Cristo vive ainda hoje em nós. Sendo assim falar-se em herança cristã só se percebe na boca de ateus e herdeiros, esses sim, do iluminismo...
É preciso ter calma...
...e se preciso fôr, fazer uma visita, higiénica e salutar à Terra da Alegria desta 2ªfeira. Onde o Lutz, o Marco e o Filipe nos oferecem mais uns belos textos. E onde surgem duas excelentes novidades: o Zé Maria e a Marvi.
Permitam-me que, no belíssimo e tocante texto da Marvi, realce um trecho, para que não esqueçamos o verdadeiro valor da caridade: 'Pensei que o que fazíamos não era por ela, mas por nós, porque toda a humanidade se degrada quando ao nosso lado um ser humano vive na degradação, mas só Respondi: “Esperemos que tenha uma vida digna no tempo que lhe resta, até à morte”. E teve. Viveu mais três meses, teve sempre lençóis limpos, comida a horas e uma mão para segurar no momento da agonia.'
Permitam-me que, no belíssimo e tocante texto da Marvi, realce um trecho, para que não esqueçamos o verdadeiro valor da caridade: 'Pensei que o que fazíamos não era por ela, mas por nós, porque toda a humanidade se degrada quando ao nosso lado um ser humano vive na degradação, mas só Respondi: “Esperemos que tenha uma vida digna no tempo que lhe resta, até à morte”. E teve. Viveu mais três meses, teve sempre lençóis limpos, comida a horas e uma mão para segurar no momento da agonia.'
quinta-feira, junho 24, 2004
Post joanino
Neste dia de S.João, o Baptista, apetece-me mais pensar no outro João, o Evangelista. De todos os quatro evangelhos, o de João, o evangelho místico, é de longe o meu preferido. Sendo aquele que é menos descritivo da vida de Jesus é aquele que mais é a palavra, o sentido, a mensagem de Jesus. Fala menos do que Jesus fez mas mais do que Jesus disse. Tendo sido o evangelho escrito mais tempo depois da morte de Cristo, é lícito pensar se as suas palavras são verdadeiras transcrições ou produto das reflexões feitas por João ao longo da sua vida sobre aquela experiência tão drástica, a de ter sido discípulo e apóstolo de Cristo. Mas isso interessa pouco pois João oferece-nos talvez aquilo que verdadeiramente é essencial na mensagem de Cristo (o tal mandamento novo) e oferece-nos também as melhores pistas para o entendimento d´Aquilo que Cristo verdadeiramente foi e é.
Decididamente, muito do meu cristianismo veio e continua a vir de João, o Evangelista, o discípulo que por ter sido amado por Cristo foi aquele que melhor O compreendeu.
Ninguém primeiro e ninguém melhor do que João nos explicou o mistério trinitário de Deus e o mistério da natureza de Cristo. Ninguém explicou como ele que o Amor tem um papel verdadeiramente cósmico: é o que nos une a Deus e Deus a nós, é o que nos une uns aos outros, é o que nos une a nós próprios. Só João nos explica que a Unidade é verdadeiramente o Amor. E nenhum dos outros evangelhos é parecido com este, nenhum é mais misterioso nem mais poético. Por falar nisso, em mistério e em poesia, é sempre bom relêr o belíssimo prólogo de João:
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por ele, e nada do que foi feito, foi feito sem ele.
Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
E a luz resplandece nas trevas, mas as trevas não a compreenderam.
Houve um homem enviado por Deus, cujo nome era João.
Este veio como testemunha, para dar testmunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele.
Ele não era a luz, mas apenas a testemunha da luz.
Aquela era a luz verdadeira, que ilumina a todo homem que vem a este mundo.
O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por ele, mas o mundo não o conheceu.
Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
Mas, a todos quantos o receberam, deu ele o poder de se fazerem filhos de Deus, aos que crêem no seu nome;
Que não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória, como Filho unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade.
João dá testemunho dele e clama dizendo: Este é o de quem eu disse: o que há-de vir depois de mim tem primazia sobre mim, porque era antes de mim.
E todos nós participámos da sua plenitude e graça sobre graça.
Porque a lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade foram trazidas por Jesus Cristo.
Ninguém jamais viu a Deus; o Filho unigénito, que está no seio do Pai, esse é quem o deu a conhecer.
Decididamente, muito do meu cristianismo veio e continua a vir de João, o Evangelista, o discípulo que por ter sido amado por Cristo foi aquele que melhor O compreendeu.
Ninguém primeiro e ninguém melhor do que João nos explicou o mistério trinitário de Deus e o mistério da natureza de Cristo. Ninguém explicou como ele que o Amor tem um papel verdadeiramente cósmico: é o que nos une a Deus e Deus a nós, é o que nos une uns aos outros, é o que nos une a nós próprios. Só João nos explica que a Unidade é verdadeiramente o Amor. E nenhum dos outros evangelhos é parecido com este, nenhum é mais misterioso nem mais poético. Por falar nisso, em mistério e em poesia, é sempre bom relêr o belíssimo prólogo de João:
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por ele, e nada do que foi feito, foi feito sem ele.
Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
E a luz resplandece nas trevas, mas as trevas não a compreenderam.
Houve um homem enviado por Deus, cujo nome era João.
Este veio como testemunha, para dar testmunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele.
Ele não era a luz, mas apenas a testemunha da luz.
Aquela era a luz verdadeira, que ilumina a todo homem que vem a este mundo.
O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por ele, mas o mundo não o conheceu.
Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
Mas, a todos quantos o receberam, deu ele o poder de se fazerem filhos de Deus, aos que crêem no seu nome;
Que não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória, como Filho unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade.
João dá testemunho dele e clama dizendo: Este é o de quem eu disse: o que há-de vir depois de mim tem primazia sobre mim, porque era antes de mim.
E todos nós participámos da sua plenitude e graça sobre graça.
Porque a lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade foram trazidas por Jesus Cristo.
Ninguém jamais viu a Deus; o Filho unigénito, que está no seio do Pai, esse é quem o deu a conhecer.
quarta-feira, junho 23, 2004
"A Morte É Trágica para Toda a Gente"
Nada é mais tocante que a dignidade no sofrimento. Hoje, no jornal, dei com isto.
Eis alguém que sofre por lhe ter sido roubado algo de precioso, que era e ia ser tudo para ele, e isto sem se perceber como nem porquê. Eis alguém que faz um apelo dolorido mas sem azedume. Eis alguém que sabe que sofre por existir a "condição humana".
Vão para ele, e para ela também, as minhas orações.
Eis alguém que sofre por lhe ter sido roubado algo de precioso, que era e ia ser tudo para ele, e isto sem se perceber como nem porquê. Eis alguém que faz um apelo dolorido mas sem azedume. Eis alguém que sabe que sofre por existir a "condição humana".
Vão para ele, e para ela também, as minhas orações.
4ªfeira, wednesday, mittwoch, mercredi, (miércoles), (mercoledì)
Já aí está a 14ºedição da TdA, sem dúvida aquela que foi mais divertido preparar.
O Tim anda às voltas com o fim do Pai-Nosso e eu às voltas ando com o fim de um texto de Leonardo Boff. Ambos verificamos a pertinência do célebre "the last but not the least". O Fernando põe um belíssimo texto de reflexão sobre o papel dos cristão que em caso algum poderá ser papel de embrulho, embrulho no sentido de conter, conter tudo: "A evangelização pode ser muitas coisas. Mas não é certamente – por muito que possa parecer - um exercício de força.Se é o que é, a evangelização tem de partir do princípio de que o outro tem já – e de um modo que o ultrapassa - as portas abertas". O Miguel, esse agita bandeiras e distribui folhetos à porta do Patriarcado. Um texto portentoso.
Em resumo, eis novamente a aplicação prática dos princípios programáticos da TdA, enunciados naquela adaptação de e.e.cummings:
We want something redblooded,
loud and pure,
reeking with stark
and fearlessly obstinate
but really clean.
Get what we mean?
And let´s not spoil it.
Let´s make it serious,
something authentic but delirious.
You know, something genuine,
like tears in a shrine.
Graced with guts
and gutted with Grace!
Squeeze your thoughts
and open your faith!
O Tim anda às voltas com o fim do Pai-Nosso e eu às voltas ando com o fim de um texto de Leonardo Boff. Ambos verificamos a pertinência do célebre "the last but not the least". O Fernando põe um belíssimo texto de reflexão sobre o papel dos cristão que em caso algum poderá ser papel de embrulho, embrulho no sentido de conter, conter tudo: "A evangelização pode ser muitas coisas. Mas não é certamente – por muito que possa parecer - um exercício de força.Se é o que é, a evangelização tem de partir do princípio de que o outro tem já – e de um modo que o ultrapassa - as portas abertas". O Miguel, esse agita bandeiras e distribui folhetos à porta do Patriarcado. Um texto portentoso.
Em resumo, eis novamente a aplicação prática dos princípios programáticos da TdA, enunciados naquela adaptação de e.e.cummings:
We want something redblooded,
loud and pure,
reeking with stark
and fearlessly obstinate
but really clean.
Get what we mean?
And let´s not spoil it.
Let´s make it serious,
something authentic but delirious.
You know, something genuine,
like tears in a shrine.
Graced with guts
and gutted with Grace!
Squeeze your thoughts
and open your faith!
terça-feira, junho 22, 2004
Guerra na Terra?
Venho aqui repudiar publicamente as torpes pressões que o Timshel pretende hoje exercer sobre a minha pessoa. Definitivamente o maoísmo é um vírus que deixa marcas indeléveis como as bexigas.
E quero dizer também que, por uma coincidência infeliz, o meu texto de amanhã na Terra da Alegria será sobre o Leonardo Boff. Ora, isto não pode de forma nenhuma ser interpretado como uma cedência ou retractação da minha parte. É apenas fruto da minha honestidade intelectual e de alguma simpatia para com estes comunas que partilham comigo esse belo projecto da TdA e que transcende tudo isto. Contudo, e como retaliação, iniciei a preparação dum douto artigo sobre o pensamento do Cardeal Cerejeira e um outro ainda mais forte: uma apologia do Sr.Cónego Melo!
Treme pois, ó Tim!
PS: não se atrevam a pensar sequer que isto é uma estratégia de promoção do próximo número da TdA. Não, isto é um conflito que estalou!
E quero dizer também que, por uma coincidência infeliz, o meu texto de amanhã na Terra da Alegria será sobre o Leonardo Boff. Ora, isto não pode de forma nenhuma ser interpretado como uma cedência ou retractação da minha parte. É apenas fruto da minha honestidade intelectual e de alguma simpatia para com estes comunas que partilham comigo esse belo projecto da TdA e que transcende tudo isto. Contudo, e como retaliação, iniciei a preparação dum douto artigo sobre o pensamento do Cardeal Cerejeira e um outro ainda mais forte: uma apologia do Sr.Cónego Melo!
Treme pois, ó Tim!
PS: não se atrevam a pensar sequer que isto é uma estratégia de promoção do próximo número da TdA. Não, isto é um conflito que estalou!
segunda-feira, junho 21, 2004
Short post
Tentando dispersar esta névoa mental que me sobrou do fim de semana, leio aquilo que devia ter ouvido ontem:
Um dia, quando orava em particular, estando com Ele apenas os discípulos, perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu sou?» Responderam-lhe: «Uns dizem que és João Baptista; outros que és Elias; outros, um dos antigos profetas ressuscitado.» Disse-lhes Ele: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Pedro tomou a palavra e respondeu: «Tu és o Messias, o Filho de Deus.»
E nós, que diz Ele que somos?
Um dia, quando orava em particular, estando com Ele apenas os discípulos, perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu sou?» Responderam-lhe: «Uns dizem que és João Baptista; outros que és Elias; outros, um dos antigos profetas ressuscitado.» Disse-lhes Ele: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Pedro tomou a palavra e respondeu: «Tu és o Messias, o Filho de Deus.»
E nós, que diz Ele que somos?
Habemus Terra
Pois é 2ªfeira e a coisa não falha. Eis então de novo a TdA, com textos brilhantes do Porfírio, do Bernardo, do Marco e, por último aber nicht o último, do Lutz.
quinta-feira, junho 17, 2004
É bem!
O meu amigo CC, conterrâneo da Alegria e honra dos crentes, recupera um gesto da mais antiga tradição cristã, monástica e hospitalária. Assim, estando o CC a dormitar pacatamente no seu blogue e eis que lhe batem ansiosamente à porta. Foi ver e era um pobre doente, expulso de sua casa e perseguido implacavelmente por alegado "delírio hipocondríaco". Chamava-se João e transportava consigo uma Cruz, no nome e na doença. Transportava também 647 frasquinhos com amostras de fluidos corporais próprios com que pretende defender a sua honra e preservar o seu auto-reconhecimento.
E o bom do CC, honrando a sua atávica condição de cristão e católico, abriu ao João e aos seus frascos, as portas do seu ascético retiro. E o João arranjou assim um tecto seguro e amigável para poder continuar a partilhar com aqueles que já há tempos o seguiam com atenção, o minucioso relato da sua tormentosa vida. Penso que o João soube escolher boa guarida: já os estou a ver ambos a torcerem para que a nossa selecção perca no Domingo para assim terminar de vez esta irritante e ruidosa excitação popular.
Para acompanhar de perto.
É bem certo que o CC já há bem duas semanas que não se digna a enviar umas linhas para a Terra da Alegria, mas é mais verdade ainda que certos exemplos edificantes de vida cristã dão um testemunho infinitamente superior a toda e qualquer erudição escrita.
É, definitivamente, o caso. Bem hajas pois, ó CC!
E o bom do CC, honrando a sua atávica condição de cristão e católico, abriu ao João e aos seus frascos, as portas do seu ascético retiro. E o João arranjou assim um tecto seguro e amigável para poder continuar a partilhar com aqueles que já há tempos o seguiam com atenção, o minucioso relato da sua tormentosa vida. Penso que o João soube escolher boa guarida: já os estou a ver ambos a torcerem para que a nossa selecção perca no Domingo para assim terminar de vez esta irritante e ruidosa excitação popular.
Para acompanhar de perto.
É bem certo que o CC já há bem duas semanas que não se digna a enviar umas linhas para a Terra da Alegria, mas é mais verdade ainda que certos exemplos edificantes de vida cristã dão um testemunho infinitamente superior a toda e qualquer erudição escrita.
É, definitivamente, o caso. Bem hajas pois, ó CC!
quarta-feira, junho 16, 2004
Nesta 4ª feira em que desejaria que a alegria não andasse só por ali, cá está de novo a dita. Na edição de hoje, o Timshel fala-nos das virtudes da pancadaria como forma de confraternização e mostra a quem não o conhece que não é mau vinho; o Miguel, que anda satisfeitíssimo, faz um artigo sério mas dá-nos também conta do resultado actual do desafio S.Tiago de Compostela vs. NªSªde Fátima. Esperamos todos que hoje seja possível ficar empatado e depois no Domingo, sim, então se verá. O Fernando, que é bom que se diga publicamente, tem sido um dedicado e eficientíssimo editor, inspirador, controlador, copy desk e outras coisas mais, o Fernando, dizia eu, fala-nos do quanto gostamos todos de ouvir uma boa história. E eu, eu acabo de descobrir as maravilhas do copy/paste.
Ah! E mostramos que somos bem educadinhos e agradecemos a uma data de gente.
Ah! E mostramos que somos bem educadinhos e agradecemos a uma data de gente.
terça-feira, junho 15, 2004
Post a 15 de Junho
Sei bem que não lerás isto. Para ti a Net é uma perda de tempo e, até certo ponto, terás razão. Mas como não lerás isto terei de to repetir logo à noite, claro. E o que eu quero dizer-te é algo que sinto todos os dias, normalmente sem me aperceber sequer. É uma coisa prosaica e pequenina. Mas é-o porque estás aqui, comigo, sempre. Se não o estivesses, então sim, essa coisa seria uma coisa grande, poética e triste. Mas como estás aqui, comigo, sempre, parece uma coisa prosaica e pequenina. Mas não o é de forma nenhuma. É algo que me confina mas me faz crescer. É algo que me deixa aqui que é onde eu quero estar. É algo de que se calhar não tens a certeza mas que é absolutamente certo.
O que te quero dizer é tão simples: fazes-me falta! Estás comigo, eu tenho-te e tu tens-me e temos os nossos filhos e eles tem-nos aos dois com eles. Mas continuas ainda assim a fazer-me falta. É como uma sede que não se sacia com água, mesmo muita que seja. E é uma falta que me enche, me completa. E me alegra.
Talvez porque o caminho atrás de nós tenha sido por montes e vales, por precipícios e planuras. Talvez porque houvesse algo que sempre soubemos que tínhamos de preservar. Talvez porque essa coisa entre nós seja mesmo um sacramento. Talvez porque, como uma vez disse um bom amigo meu aqui da Net, sim da Net, o amor seja um exercício da vontade. E que a vontade tenha afinal um importante papel a desempenhar. E que o amor se traduza em actos que visam minorar ou prevenir o sofrimento e a infelicidade. O teu e o meu e o dos nossos filhos.
Fazes-me falta, portanto, e ainda bem que assim é. Era apenas isto o que eu te queria dizer
O que te quero dizer é tão simples: fazes-me falta! Estás comigo, eu tenho-te e tu tens-me e temos os nossos filhos e eles tem-nos aos dois com eles. Mas continuas ainda assim a fazer-me falta. É como uma sede que não se sacia com água, mesmo muita que seja. E é uma falta que me enche, me completa. E me alegra.
Talvez porque o caminho atrás de nós tenha sido por montes e vales, por precipícios e planuras. Talvez porque houvesse algo que sempre soubemos que tínhamos de preservar. Talvez porque essa coisa entre nós seja mesmo um sacramento. Talvez porque, como uma vez disse um bom amigo meu aqui da Net, sim da Net, o amor seja um exercício da vontade. E que a vontade tenha afinal um importante papel a desempenhar. E que o amor se traduza em actos que visam minorar ou prevenir o sofrimento e a infelicidade. O teu e o meu e o dos nossos filhos.
Fazes-me falta, portanto, e ainda bem que assim é. Era apenas isto o que eu te queria dizer
segunda-feira, junho 14, 2004
Terra Nostra
Não é mais apropriado anunciar a saída de mais uma edição especial ou extra da Terra da Alegria. O facto é que o "painel" (feíssima expressão) que por lá escreve às segundas-feiras já ganhou lugar cativo por mérito evidente. Por isso limito-me a anunciar a saída do 11º número da TdA.
Onde o Lutz e o Vítor nos servem uns appetizers da Simone Weil e do Rui Caeiro - provei e vou ler mais de ambos. Onde o Marco relembra o texto do meu paizinho espiritual sobre a génese do Babismo que foi o percursor dos Baha´is.
E onde o Porfírio reflecte com lucidez sobre a morte de Sousa Franco, que me amargou a Fé na passada semana não por ter morrido mas pela forma como morreu. E vejo agora que ainda me amarga a boca. Apesar disso parece que ele morreu não com surpresa mas com a paz espelhada no rosto. Há grandeza na Fé e pela Fé.
Onde o Lutz e o Vítor nos servem uns appetizers da Simone Weil e do Rui Caeiro - provei e vou ler mais de ambos. Onde o Marco relembra o texto do meu paizinho espiritual sobre a génese do Babismo que foi o percursor dos Baha´is.
E onde o Porfírio reflecte com lucidez sobre a morte de Sousa Franco, que me amargou a Fé na passada semana não por ter morrido mas pela forma como morreu. E vejo agora que ainda me amarga a boca. Apesar disso parece que ele morreu não com surpresa mas com a paz espelhada no rosto. Há grandeza na Fé e pela Fé.
sexta-feira, junho 11, 2004
Private stroke
O meu amigo e camarada de luta Timshel, referindo-se à última TdA achou por bem vir esclarecer que isto não é um galo! Eu também acho que não. Assim sendo, ninguém deve ficar com ele.
quarta-feira, junho 09, 2004
O Índex:
Narciso Miranda, António Preto, Orlando Gaspar, Luís Filipe Menezes, Mesquita Machado, Cruz Silva, Nuno Cardoso, Alberto João, Fernando Gomes, Major Valentim, Manuel Seabra, Daniel Campelo, Joaquim Raposo e mais quinhentos que tais. Os reis dos mercados e das lotas. Os que enchem as praças e mexem os cordelinhos. Os que angariam votos e figurantes em troca de ser deles o poder de facto. Os mesmos de sempre. Os belicosos senhores deste novo feudalismo.
Pergunto: e não se pode exterminá-los?
Se fôr possível, talvez eu volte a votar algum dia. Se não fôr, mais vale acabar com toda esta choldra ignóbil e vender o país a retalho ou por atacado.
Nunca falei aqui de política, nem voltarei a falar, mas o que se passou hoje é verdadeira e demasiadamente escabroso.
"Jorge Coelho, conhecedor da «guerra» em Matosinhos, terá aconselhado Sousa Franco a não ir à lota. No entanto, a direcção de campanha decidiu avançar com a acção, optando, como precaução, que Sousa Franco não levasse os óculos precisamente a pensar em eventuais encontrões"!(in Portugal Diário)
E enquanto os do Índex ficam e prosperam, os válidos vão fugindo, saíndo de cena e, como hoje, morrendo.
E morreu Sousa Franco. Penso que em vão, completamente em vão.
Pergunto: e não se pode exterminá-los?
Se fôr possível, talvez eu volte a votar algum dia. Se não fôr, mais vale acabar com toda esta choldra ignóbil e vender o país a retalho ou por atacado.
Nunca falei aqui de política, nem voltarei a falar, mas o que se passou hoje é verdadeira e demasiadamente escabroso.
"Jorge Coelho, conhecedor da «guerra» em Matosinhos, terá aconselhado Sousa Franco a não ir à lota. No entanto, a direcção de campanha decidiu avançar com a acção, optando, como precaução, que Sousa Franco não levasse os óculos precisamente a pensar em eventuais encontrões"!(in Portugal Diário)
E enquanto os do Índex ficam e prosperam, os válidos vão fugindo, saíndo de cena e, como hoje, morrendo.
E morreu Sousa Franco. Penso que em vão, completamente em vão.
Ontem o trânsito de Vénus foi apenas um pontinho no Sol
Hoje, sim, há algo com muito mais impacto:
Onde o Timshel se alarga em considerações etílico-teológicas, o Miguel fala da angústia de São Tiago (de Compostela e Castela) no momento do penalti, o Rui fala dos bons, dos maus e dos assim-assim e o Fernando parece querer lembrar-nos daquilo que queremos esquecer. Eu continuo às voltas com coisas vetustas e áridas. O Carlos está momentâneamente fora de combate devido a uma inoportuna inoculação de um coktail assassino de vírus, vermes e outros agentes informáticos do Maligno.
Onde o Timshel se alarga em considerações etílico-teológicas, o Miguel fala da angústia de São Tiago (de Compostela e Castela) no momento do penalti, o Rui fala dos bons, dos maus e dos assim-assim e o Fernando parece querer lembrar-nos daquilo que queremos esquecer. Eu continuo às voltas com coisas vetustas e áridas. O Carlos está momentâneamente fora de combate devido a uma inoportuna inoculação de um coktail assassino de vírus, vermes e outros agentes informáticos do Maligno.
terça-feira, junho 08, 2004
Jacarandás e outras improbabilidades
O brasileiro Oscar Mourave fala-no dum dos mais belos vestígios do Brasil em terras de Lisboa: os jacarandás que florescem em Maio dando às nossas ruas uma beleza única mas de curta duração. E diz ele: "Eu e o jacarandá compartilhamos a mesma condição: sabemos que neste saguão do mundo somos ambos estrangeiros".
Notícias do reino animal
Os Animais Evangélicos já chegaram ao nº22 e continuam a dizer coisas interessantes e com as quais muitas das vezes concordo e subscrevo. Senão vejamos:
O Tiago Cavaco diz-nos: "há que entender a igreja enquanto soma de cabeças. Individuais. Únicas. Invioláveis. Prescindamos do exército de ávidos evangelizadores sem escrúpulos para apostar em pessoas. Tão somente" e "um conselho prático (...): na Escola Dominical ensinar as criancinhas a repetir todos os domingos, a seguir à passagem bíblica da semana, a seguinte frase de Kierkegaard: "a multidão é falsidade""
E também o Samuel Úria: "Olho com desconfiança as vociferadas intimidades com Deus. Desde que penso nisso detesto quando o ideário romântico se mescla com o devocional. A filiação no Criador dá-me uma visão incestuosa de certas expressões a Ele endereçadas".
O Tiago Cavaco diz-nos: "há que entender a igreja enquanto soma de cabeças. Individuais. Únicas. Invioláveis. Prescindamos do exército de ávidos evangelizadores sem escrúpulos para apostar em pessoas. Tão somente" e "um conselho prático (...): na Escola Dominical ensinar as criancinhas a repetir todos os domingos, a seguir à passagem bíblica da semana, a seguinte frase de Kierkegaard: "a multidão é falsidade""
E também o Samuel Úria: "Olho com desconfiança as vociferadas intimidades com Deus. Desde que penso nisso detesto quando o ideário romântico se mescla com o devocional. A filiação no Criador dá-me uma visão incestuosa de certas expressões a Ele endereçadas".
segunda-feira, junho 07, 2004
DEVOTA ORAÇAM DE MUY MIRACULOSA EFFICACIA PARA IMPINGENS, SEZOENS E EXCESOS DE ESPECULAÇAM THEOLOGICA
(dedicada a uns amigos aqui da blogosfera, também a mim me será de proveito)
Ó Deus infinito e incognoscível
Quem quiser aproximar-se de Ti,
deve elevar-se acima de qualquer limite,
de toda a finitude.
Para Te ver,
a inteligência deve fazer-se ignorância,
e estabelecer-se na obscuridade.
Somente pode aproximar-te de Ti
aquele que sabe que Te ignora.
Nicolau de Cusa
Ó Deus infinito e incognoscível
Quem quiser aproximar-se de Ti,
deve elevar-se acima de qualquer limite,
de toda a finitude.
Para Te ver,
a inteligência deve fazer-se ignorância,
e estabelecer-se na obscuridade.
Somente pode aproximar-te de Ti
aquele que sabe que Te ignora.
Nicolau de Cusa
Mais Terra
Mais um número especial de 2ªfeira da Terra da Alegria. Hoje com mais um novo colaborador, o Porfírio Silva do excelente Turing Machine. Respondendo ao nosso apelo inicial de "a Terra a quem a trabalha" ele vem hoje dizer qua "a Terra da Alegria pede umas enxadas, pede que cavemos, que as nossas mãos se cheguem ao solo".
Mas a coisa não fica por aqui: o Marco diz-nos que as vidas dos profetas podem dar bons filmes e o Lutz, relembrando Eckhart, mostra-nos que as heresias de ontem podem ser cânones de amanhã.
domingo, junho 06, 2004
3 em 1
Hoje a Igreja festeja a Santíssima Trindade e fá-lo lendo-nos: "Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender por agora. Quando Ele vier, o Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a Verdade completa. Ele não falará por si próprio, mas há-de dar-vos a conhecer quanto ouvir e anunciar-vos o que há-de vir. Ele há-de manifestar a minha glória, porque receberá do que é meu e vo-lo dará a conhecer".
Ou seja a Igreja celebra a Trindade Divina recordando a invocação do Espírito Santo pela própria boca de Jesus.
O conceito trinitário, tão antipático às outras religiões monoteístas, tão polémico nos primórdios da Igreja, tão ininteligível hoje ainda para tantos cristãos, é algo que parece um preciosismo, ontológico e também figurativo, da teologia cristã. E muito por causa do Espírito Santo, entidade abstrata e aparentemente inútil na nossa Fé. Já aqui disse que durante muitos anos entendi-O como uma mera figura de estilo teológica. Se eu discernia bem o Pai e o Filho como entidades ontológicamente diferentes ainda que unas, já não percebia a razão de ser do Espírito Santo.
Hoje contudo, fruto de reflexão e também de alguma experiência pessoal, já não penso assim. Hoje sinto claramente o Esprírito Santo exactamente como Jesus O descreveu, como realidade actuante em nós.
Se o Pai é a forma como entendo Deus, se o Filho é a forma como entendo o Amor de Deus, já o Espírito Santo esse entendo-O como a inteligência de Deus em nós, algumas vezes presente, tantas vezes ausente, expulso ou abafado pela nossa própria inteligência. E, curiosamente, acontece-me sinto-Lo em mim quase sensorialmente. Para ser mais preciso, se por vezes (poucas) sinto a Sua presença, muitas vezes sinto duramente a Sua ausência.
E é assim que eu O sinto, acredito e entendo...
Ou seja a Igreja celebra a Trindade Divina recordando a invocação do Espírito Santo pela própria boca de Jesus.
O conceito trinitário, tão antipático às outras religiões monoteístas, tão polémico nos primórdios da Igreja, tão ininteligível hoje ainda para tantos cristãos, é algo que parece um preciosismo, ontológico e também figurativo, da teologia cristã. E muito por causa do Espírito Santo, entidade abstrata e aparentemente inútil na nossa Fé. Já aqui disse que durante muitos anos entendi-O como uma mera figura de estilo teológica. Se eu discernia bem o Pai e o Filho como entidades ontológicamente diferentes ainda que unas, já não percebia a razão de ser do Espírito Santo.
Hoje contudo, fruto de reflexão e também de alguma experiência pessoal, já não penso assim. Hoje sinto claramente o Esprírito Santo exactamente como Jesus O descreveu, como realidade actuante em nós.
Se o Pai é a forma como entendo Deus, se o Filho é a forma como entendo o Amor de Deus, já o Espírito Santo esse entendo-O como a inteligência de Deus em nós, algumas vezes presente, tantas vezes ausente, expulso ou abafado pela nossa própria inteligência. E, curiosamente, acontece-me sinto-Lo em mim quase sensorialmente. Para ser mais preciso, se por vezes (poucas) sinto a Sua presença, muitas vezes sinto duramente a Sua ausência.
E é assim que eu O sinto, acredito e entendo...
quinta-feira, junho 03, 2004
Deus e o sofrimento humano
Nos últimos dias tem-se discutido bastante por aí o sofrimento humano e a razão de ele ser permitido pelo Deus que nos criou.
O Zé Filipe cita páginas difíceis de von Horvath: 'Diz o padre: "Deus vai por todos os caminhos". Objecta o professor: "Como é que Deus pode passar pelo caminho em que vivem estas crianças miseráveis, vê-las e não as ajudar?" "Ele calou-se. Bebeu do seu vinho a lentos goles meditativos. Depois olhou-me de novo: 'Deus é o que há de mais terrível no mundo'". O professor ficou tão estupefacto que nem acreditou no que tinha ouvido. (...)Os acontecimentos são-nos incompreensíveis porque queremos julgá-los imediatamente, antes de lhes conhecermos todos os prolongamentos e consequências. Mas para Deus não há o "imediatamente" (...). Há o tempo todo, todo o passado, todo o presente, todo o futuro. E é isso que é terrível. "O mais terrível do mundo"'.
O Zé Manuel fala da “Gente que foi castigada pelo agreste do frio da montanha ou pela secura da planície. E que não consegue ver beleza onde há experiência de dor. É esse o estatuto de Deus nas nossas sociedades plurais: onde uns sentem a ferida do castigo sem explicação, outros vêem o incomensuravelmente bom.”
Para resolver isto o Tim cria um conceito novo para mim: a “omnimpotência” de Deus e diz que “se há sofrimento, o meu Deus ordena-me que tente já, aqui e agora, resolver esses problemas e não que espere pela visualização dos planos divinos”.
Concordo com tudo isto excepto com a “omnimpotência” de Deus. E recorro a sábias palavras do mesmo Timshel na última TdA: “o amor é um exercício de vontade”. Portanto, a simples realidade do Amor de Deus é em si mesmo uma acção actuante em nós, mesmo em situação de sofrimento.
Mas não é por acaso que a questão da teodicéia é profundamente perturbante para a fé dos crentes. Repescando umas palavras antigas aqui do Guia eu diria o seguinte:
Como é possível Deus existir se ele permite o sofrimento das suas criaturas? Faz parte dos pilares da minha Fé considerar Deus como nosso Pai, muito mais do que nosso Senhor. Como Pai, criou-nos à sua imagem e semelhança e como tal deu-nos liberdade plena para os nossos actos ou seja o poder de escolher o caminho como Ele o pode escolher. Acontece apenas que para essa liberdade ser plena, é necessário que o mundo à nossa volta, o nosso corpo, os outros, tudo o resto evolua também em liberdade. O princípio da incerteza de Heisenberg tem um significado profundamente teológico. O contraponto disto é que, assim, o mal, o sofrimento, a morte, existem à nossa volta e dentro de nós. Só desta forma a nossa liberdade tem verdadeiro sentido, só assim é real a capacidade de escolher que nos foi dada, só assim somos verdadeiramente filhos de Deus, só assim temos algo de divino em nós. Deus criou-nos como filhos para vivermos em liberdade e não numa redoma como mascotes. Aceitando isto podemos talvez perceber que o sofrimento não é um castigo nem a prova duma ausência, podemos talvez perceber que o sofrimento deve ser uma oportunidade de ter consciência da precaridade da nossa existência terrena, uma oportunidade de, tendo maior consciência da nossa condição humana, nos aproximarmos de Deus. Seguramente que esta consciência nos eleva e alivia o sofrimento. Mas em caso algum diminui a nossa responsabilidade de aliviar o sofrimento do próximo.
Teorias de quem nunca sofreu? Tenho boas razões para dizer que não. Razões minhas.
O Zé Filipe cita páginas difíceis de von Horvath: 'Diz o padre: "Deus vai por todos os caminhos". Objecta o professor: "Como é que Deus pode passar pelo caminho em que vivem estas crianças miseráveis, vê-las e não as ajudar?" "Ele calou-se. Bebeu do seu vinho a lentos goles meditativos. Depois olhou-me de novo: 'Deus é o que há de mais terrível no mundo'". O professor ficou tão estupefacto que nem acreditou no que tinha ouvido. (...)Os acontecimentos são-nos incompreensíveis porque queremos julgá-los imediatamente, antes de lhes conhecermos todos os prolongamentos e consequências. Mas para Deus não há o "imediatamente" (...). Há o tempo todo, todo o passado, todo o presente, todo o futuro. E é isso que é terrível. "O mais terrível do mundo"'.
O Zé Manuel fala da “Gente que foi castigada pelo agreste do frio da montanha ou pela secura da planície. E que não consegue ver beleza onde há experiência de dor. É esse o estatuto de Deus nas nossas sociedades plurais: onde uns sentem a ferida do castigo sem explicação, outros vêem o incomensuravelmente bom.”
Para resolver isto o Tim cria um conceito novo para mim: a “omnimpotência” de Deus e diz que “se há sofrimento, o meu Deus ordena-me que tente já, aqui e agora, resolver esses problemas e não que espere pela visualização dos planos divinos”.
Concordo com tudo isto excepto com a “omnimpotência” de Deus. E recorro a sábias palavras do mesmo Timshel na última TdA: “o amor é um exercício de vontade”. Portanto, a simples realidade do Amor de Deus é em si mesmo uma acção actuante em nós, mesmo em situação de sofrimento.
Mas não é por acaso que a questão da teodicéia é profundamente perturbante para a fé dos crentes. Repescando umas palavras antigas aqui do Guia eu diria o seguinte:
Como é possível Deus existir se ele permite o sofrimento das suas criaturas? Faz parte dos pilares da minha Fé considerar Deus como nosso Pai, muito mais do que nosso Senhor. Como Pai, criou-nos à sua imagem e semelhança e como tal deu-nos liberdade plena para os nossos actos ou seja o poder de escolher o caminho como Ele o pode escolher. Acontece apenas que para essa liberdade ser plena, é necessário que o mundo à nossa volta, o nosso corpo, os outros, tudo o resto evolua também em liberdade. O princípio da incerteza de Heisenberg tem um significado profundamente teológico. O contraponto disto é que, assim, o mal, o sofrimento, a morte, existem à nossa volta e dentro de nós. Só desta forma a nossa liberdade tem verdadeiro sentido, só assim é real a capacidade de escolher que nos foi dada, só assim somos verdadeiramente filhos de Deus, só assim temos algo de divino em nós. Deus criou-nos como filhos para vivermos em liberdade e não numa redoma como mascotes. Aceitando isto podemos talvez perceber que o sofrimento não é um castigo nem a prova duma ausência, podemos talvez perceber que o sofrimento deve ser uma oportunidade de ter consciência da precaridade da nossa existência terrena, uma oportunidade de, tendo maior consciência da nossa condição humana, nos aproximarmos de Deus. Seguramente que esta consciência nos eleva e alivia o sofrimento. Mas em caso algum diminui a nossa responsabilidade de aliviar o sofrimento do próximo.
Teorias de quem nunca sofreu? Tenho boas razões para dizer que não. Razões minhas.
terça-feira, junho 01, 2004
É prá amanhã!
Opiniata sobre a Concordata
Perguntaram-me já há semanas o que pensava eu da questão da Concordata. Nada de especial, respondi eu, pois não a tinha ainda lido nem pensado sobre ela. Fiz a seguir o download dos documentos, o original e a versão upgrade (ou downgrade, segundo alguns dizem). Recolhi também alguns textos sobre o assunto, uns da Igreja e de católicos leigos a apoiar e outros de outras pessoas a contestar. Mas ainda não os li profundamente. É que comecei a carburar. Puz-me a pensar sobre a razão de ser da 1ª Concordata. O que me levou à 1ªRepública e ao Estado “mata-frades”. Mas como seriam as coisas na monarquia da Carta e do liberalismo e da Secretaria dos Negócios Eclesiásticos? Passei então pelo Eça e pelo “horrendo” Padre Salgueiro, amigo do seu alter ego Fradique Mendes. Andando mais para trás, lembrei-me das reformas do Mouzinho da Silveira e da extinção das ordens religiosas e expropriação dos seus bens. Cheguei finalmente aos piíssimos tempos de D.Maria I, do cantinho do Céu em Queluz e do Sr. Arcebispo de Tessalónica. Apareceu-me logo de seguida o Marquês de Pombal, o Iluminismo português e a expulsão dos jesuítas. Ia eu já no D.João V, na embaixada ao Papa, no Convento de Odivelas, quando disse a mim próprio: basta! Por este caminho só tenho post para depois da celebração do aniversário da Nova Concordata...
Contudo, gostaria de, ainda em tempo útil, falar das minhas primeiras impressões sobre este assunto que me deixa algo perplexo. Sinto, com efeito, alguma perplexidade em relação a este assunto, à forma como a coisa foi tratada, ao silêncio que se escuta em muitos católicos. Perplexidade também quanto à surpreendente falta de debate sobre este assunto. O facto do famoso Bloco Central ter aqui posição unânime e intervenção partilhada ajuda a perceber esta falta de debate. Ainda assim houve umas intervenções de alguns bloquistas do outro Bloco mas pareceram-me ter sido mais para consumo interno e para cumprir calendário. As respostas dos colunistas católicos foram cordatas e comedidas: defenderam a coisa no plano dos princípios invocando a defesa da Igreja e usando argumentos formalistas e convencionais. Quanto às outras confissões pouco se fizeram ouvir. Tirando um ou outro evangélico aqui na blogosfera, passaram-me completamente despercebidas quaisquer reacções relevantes.
Enfim, podemos pois dizer que a coisa tinha de ser feita, que foi feita a contento, que não houve chatices de maior, portanto não se fala mais nisso. A mim contudo apetece-me pensar um bocado mais no assunto. E depois falar nele. Não sei ainda se aqui ou na Terra da Alegria. Mas seguramente que hei-de falar da Concordata.
Para já duas reflexões preliminares, apenas.
Primeiro, quanto à reacção ou falta dela dos meios não católicos. Essa não é de admirar. É bem verdade que as coisas não devem ser tomadas pelo seu valor facial mas pelo que valem realmente e, neste Portugal de hoje, onde a grande parte da população se está marimbando para a religião, a assinatura desta nova Concordata é quase um não acontecimento, tal é a sua irrelevância material para quase toda a gente. Pese embora o peso simbólico do acto em si, mas que todos sabem ser apenas simbólico, não vai esta Concordata aumentar a influência que a Igreja Católica tem neste país nem vai sequer prejudicar mais um pouco que seja, material e espiritualmente, quaisquer das outras confissões religiosas.
Quanto à reacção dos meios católicos, ou também falta dela, essa sim já me incomoda um bocado. Tirando as vozes que se levantaram para a defesa institucional da Concordata, pareceu-me haver um grande silêncio, uma grande falta de debate, e parece-me que tal se deve essencialmente à vontade de não dar argumentos aos adversários da Igreja. E isso incomoda-me porque nós deveríamos estar-nos nas tintas para eles. Mal vão as coisas quando eles conseguem evitar que exista debate entre os católicos sobre assuntos que são relevantes para a nossa Fé e para a nossa Igreja.
E é por isso que, pese embora a informação muito incompleta sobre este assunto, não tenho problema nenhum em afirmar desde já mais uma ou outra coisa que me incomodam em todo este processo. Incomoda-me a satisfação que pressinto nos egos da hierarquia da minha Igreja, por mais este triunfozinho sobre um poder político deliquescente. Incomoda-me o peso que os aspectos patrimoniais parecem ter no acordo global. Incomoda-me o formato tipo "acordo entre estados soberanos" que faz parecer a minha Igreja uma representante de interesses estrangeiros em Portugal, coisa que não o é. Incomoda-me o facto de a hierarquia católica parecer necessitar desta coisa tão terrena para o exercício do seu ministério sagrado. Incomoda-me que a defesa de direitos adquiridos, para mais não essenciais, pareça ser um fim em si mesmo, sem que eles tenham relevante interesse pastoral.
Mas como já disse, isto são primeiras impressões, sem ter ainda lido com atenção todo o antigo e todo o novo texto e sem ter reflectido mais profundamente sobre tudo isto. Espero vir ainda a formular um mea culpa...ou talvez não.
Contudo, gostaria de, ainda em tempo útil, falar das minhas primeiras impressões sobre este assunto que me deixa algo perplexo. Sinto, com efeito, alguma perplexidade em relação a este assunto, à forma como a coisa foi tratada, ao silêncio que se escuta em muitos católicos. Perplexidade também quanto à surpreendente falta de debate sobre este assunto. O facto do famoso Bloco Central ter aqui posição unânime e intervenção partilhada ajuda a perceber esta falta de debate. Ainda assim houve umas intervenções de alguns bloquistas do outro Bloco mas pareceram-me ter sido mais para consumo interno e para cumprir calendário. As respostas dos colunistas católicos foram cordatas e comedidas: defenderam a coisa no plano dos princípios invocando a defesa da Igreja e usando argumentos formalistas e convencionais. Quanto às outras confissões pouco se fizeram ouvir. Tirando um ou outro evangélico aqui na blogosfera, passaram-me completamente despercebidas quaisquer reacções relevantes.
Enfim, podemos pois dizer que a coisa tinha de ser feita, que foi feita a contento, que não houve chatices de maior, portanto não se fala mais nisso. A mim contudo apetece-me pensar um bocado mais no assunto. E depois falar nele. Não sei ainda se aqui ou na Terra da Alegria. Mas seguramente que hei-de falar da Concordata.
Para já duas reflexões preliminares, apenas.
Primeiro, quanto à reacção ou falta dela dos meios não católicos. Essa não é de admirar. É bem verdade que as coisas não devem ser tomadas pelo seu valor facial mas pelo que valem realmente e, neste Portugal de hoje, onde a grande parte da população se está marimbando para a religião, a assinatura desta nova Concordata é quase um não acontecimento, tal é a sua irrelevância material para quase toda a gente. Pese embora o peso simbólico do acto em si, mas que todos sabem ser apenas simbólico, não vai esta Concordata aumentar a influência que a Igreja Católica tem neste país nem vai sequer prejudicar mais um pouco que seja, material e espiritualmente, quaisquer das outras confissões religiosas.
Quanto à reacção dos meios católicos, ou também falta dela, essa sim já me incomoda um bocado. Tirando as vozes que se levantaram para a defesa institucional da Concordata, pareceu-me haver um grande silêncio, uma grande falta de debate, e parece-me que tal se deve essencialmente à vontade de não dar argumentos aos adversários da Igreja. E isso incomoda-me porque nós deveríamos estar-nos nas tintas para eles. Mal vão as coisas quando eles conseguem evitar que exista debate entre os católicos sobre assuntos que são relevantes para a nossa Fé e para a nossa Igreja.
E é por isso que, pese embora a informação muito incompleta sobre este assunto, não tenho problema nenhum em afirmar desde já mais uma ou outra coisa que me incomodam em todo este processo. Incomoda-me a satisfação que pressinto nos egos da hierarquia da minha Igreja, por mais este triunfozinho sobre um poder político deliquescente. Incomoda-me o peso que os aspectos patrimoniais parecem ter no acordo global. Incomoda-me o formato tipo "acordo entre estados soberanos" que faz parecer a minha Igreja uma representante de interesses estrangeiros em Portugal, coisa que não o é. Incomoda-me o facto de a hierarquia católica parecer necessitar desta coisa tão terrena para o exercício do seu ministério sagrado. Incomoda-me que a defesa de direitos adquiridos, para mais não essenciais, pareça ser um fim em si mesmo, sem que eles tenham relevante interesse pastoral.
Mas como já disse, isto são primeiras impressões, sem ter ainda lido com atenção todo o antigo e todo o novo texto e sem ter reflectido mais profundamente sobre tudo isto. Espero vir ainda a formular um mea culpa...ou talvez não.