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quinta-feira, dezembro 23, 2004

Votos para 2005: 

Que Deus tenha mais sucesso no próximo ano!

(dito por uma criança de 8 anos)

quarta-feira, dezembro 22, 2004

No Presépio 

Maria

Conversava há uns dias com um amigo protestante, tão ou mais cristão do que eu, mas que acha ser o seu cristianismo diferente do meu, sobre a importância que a figuração do presépio tem entre nós católicos. Falámos de culto de imagens e de iconoclastias. De Erasmo e de Lutero. E por aí adiante. Mas esqueci-me de lhe dizer que é no Presépio, logo aí, que nós católicos, reconhecemos a santidade, melhor dizendo, a sacralidade de Maria. E só hoje me lembrei dum texto obscuro de Sartre (sim, dele mesmo) lido há muito tempo numa crónica de Frei Bento Domingues e que era mais ou menos assim:

«Maria está pálida e olha para o menino com um encantamento ansioso que não apareceu senão uma vez sobre uma figura humana. Porque Cristo é o seu menino: a carne da sua carne, o fruto das suas entranhas. Cresceu nela durante nove meses e Maria dar-lhe-á o seu seio. Por longos momentos, invadida pelo mais forte dos amores humanos, ela esquece que ele é Deus. E aperta-o nos seus braços dizendo 'Meu pequenino’. Mas noutros momentos ela suspende esse movimento e pensa, abismada: Deus está aqui! E fica possuída por um horror religioso, por este Deus mudo, por esta criança terrificante. É certo que todas as mães ficam assim suspensas, por um momento, diante desse fragmento rebelde da sua carne que é o seu filho, e sentem-se em exílio diante dessa vida nova que se fez a partir da sua. Sentem-se então, todas elas, habitadas por pensamentos estranhos. Mas nenhuma criança, porém, foi tão cruelmente e tão rapidamente arrancada à mãe: aquela criança é Deus e ultrapassará sempre tudo o que Maria possa sequer imaginar. Mas há também momentos fugidios, nos quais ela sente que Cristo é seu filho e que ele é Deus. Ao olhar para ele, pensa: ‘este Deus é meu menino. Esta carne divina é a minha carne. Ele é feito de mim, tem os meus olhos e esta forma da sua boca é a forma da minha. Parece-se comigo. Ele é Deus e parece-se comigo!’
Nenhuma mulher teve, desse modo, o seu Deus só para ela, um Deus pequenino que se pode tomar nos braços e cobri-lo de beijos, um Deus quentinho que lhe sorri e que respira, um Deus que ela pode tocar e que lhe ri!»

É por isso mesmo, por ter sido ela a única a quem Deus se entregou tão completamente, deixando-a vê-Lo assim tão absolutamente tal qual Ele é, que nós dizemos que ela é cheia de graça e bendita entre as mulheres.

José

Se Maria aparece poucas vezes mencionada no Evangelho, este meu homónimo aparece ainda menos. E se os católicos vieram a dedicar a Maria uma devoção verdadeiramente religiosa, já o bom José aparece em bem poucos altares e é lembrado com um respeito bem discreto. José é o elo que justifica a profetizada ascendência Davídica de Jesus. José é aquele que não repudiando Maria pela sua inexplicável gestação, permite que Jesus nasça e cresça como um qualquer judeu entre os judeus. É assim que José permite que Ele venha a ser rejeitado por ter vivido como viveu e não por ter nascido como nasceu. A José a vontade de Deus não se revelou como a Maria, através dum anjo resplandescente. Não. A José Deus falou discretamente em sonhos, metáfora certamente duma dolorosa reflexão. E ainda assim, silenciosamente, discretamente, José curva-se à vontade do Pai, para que o Filho encarnado entre nós seja um de nós. A José não coube um papel grandioso no plano divino, coube-lhe sim um papel instrumental. Muito antes de Jesus desafiar os homens a abandonarem tudo para o seguirem, já José abandonou o seu orgulho, que se cola tanto à alma humana. Fala-se tanto do sim de Maria, até lhe chamam a NªSª do Sim, mas a mim impressiona-me mais o sim de José. É esse o sim dos simples, o sim das pessoas como nós, os que procuramos seguir a vontade de Deus sem que esta nos surja com a clareza que gostaríamos, sem que possamos sentir que Lhe fazemos tanta falta assim. É o sim prosaico de quem sacrifica o ego em benefício do dever, de quem ama Deus mesmo em prejuízo do seu amor próprio. No presépio, olhando para a sua amada Maria e para aquele Menino, tão espantoso mas tão frágil, José pensa certamente nas dúvidas passadas e sente que, agora sim, chegou a hora de ser ele o protector Daquele que veio para nos salvar.
Mirem-se pois no exemplo do marido de Maria, pai terreno de Jesus.

O Menino

Nem todos conhecerão a experiência de ter um recém-nascido nos braços, sobretudo de fôr sangue do nosso sangue. Eu tive-a por duas vezes e é algo que nunca esquecerei. Acho que um recém-nascido representa um ponto altíssimo da condição humana: ele é absolutamente frágil o que é um atributo do homem e é absolutamente puro o que é ainda um atributo de Deus. Ao encarnar num recém-nascido, Deus assume a condição humana no momento em que ela ainda não se afastou da semelhança com Ele. Ao encarnar num recém-nascido Deus vem tornar sagrada a condição de todos os recém-nascidos, pois naquele instante Ele foi igual a todos eles, os passados e os futuros. É nesse momento fugaz que Deus veio ser nosso igual. É nesse momento fugaz que nós fomos iguais a ele. É um momento fugaz de unidade de nós com Deus e de Deus connosco.

Bom Natal para todos.

Conversa da treta 

Reconheço o evidente: este blogue que se autodenomina guia anda votado a um abandono acabrunhante. Mas cada um dá o que pode e pode quem tem tempo para poder. E o tempo que tenho é curto, estupidamente curto.
Ora pensando que a minha dúzia e meia de leitores mais do que merece um postezito de Natal e não tendo tempo para o fazer vou, a título excepcional, picar à terra aquilo que nela hoje plantei. É o que segue. E espero que gostem e me perdoem este silêncio persistente.

terça-feira, dezembro 21, 2004

Ad Catholicam Ecclesiam 

«Ó Santa Madre Igreja, força e luz da minha vida, Eu indigno pecador que tão tarde, já ao declinar do dia, venho trabalhar para a vinha do Senhor, rogo que intercedas por mim ao mesmo Senhor Jesus Cristo que não me negue o salário da sua divina graça, a mim pobre trabalhador ocioso da última hora, a fim de que tudo o que eu pensar e pintar neste livro, seja para louvor e honra do Seu Santíssimo Nome. E humildemente me submeto e a todas as coisas nele pensadas ou pintadas à tua correcção e emenda. E sob a Tua divina disciplina e ortodoxa Fé Católica, prometo viver, morrer e ressuscitar. Ámen.
E quanto às imagens pintadas da Santíssima e admirável Trindade, na Criação do Mundo até ao dilúvio de Noé já outrora as examinei a juízo e conselho do Católico e devotíssimo Rei D.João III e da Raínha D.Catarina sua mulher, e do Cristianíssimo Infante D.Luís e ainda com três exímios teólogos da Ordem de S.Domingos, a saber: Frei Tomé da Costa, Frei João da Cruz e Frei Alfonso de Peralta, os quais todos unanimemente aprovaram e confirmaram que todas estas coisas foram pensadas e pintadas conforme o sentido da Igreja Católica e da Sagrada Escritura.
Rogo pois, uma e outra vez, ó Santa Igreja de Deus, que me ensinaste estas coisas, que me digneis unir Contigo a nossa cabeça, para que com Deus, todos sejamos um só.»

Muito repeitosa dedicatória de Francisco D´Ollanda no seu monumental códice De Aetatibus Mundi Imagines



segunda-feira, dezembro 20, 2004

Não querer crer; não querer querer; crer e querer 

Hoje, pela ordem inversa, na terra da alegria. Ler para crer.

Ver para crer 

Não é uma Bíblia escrita à mão mas uma Bíblia desenhada à mão, quase toda ela, do Génesis ao Apocalipse. Descobri-a ontem em casa dos meus pais, numa edição fac-similada duma obra absolutamente fascinante e, para mim, totalmente ignorada. Estou a falar do Livro das Idades ( De Aetatibvs Mvndi Imagines) de 1543-1573, do pintor português renascentista Francisco d´Hollanda. Trouxe-a para minha casa e fiquei até às tantas a embasbacar para aquela história ilustrada do Mundo segundo a teologia católica quinhentista. Os 7 desenhos dos 7 dias da criação, os desenhos do dilúvio, da torre de Babel, das pragas do Egipto, da morte dos inocentes a mando de Herodes, das ascenções de Cristo e de Maria, a morte de Paulo, as 10.000 virgens, todo o Apocalipse de João e muiutíssimo mais. A representação visual da Bíblia como nunca a imaginara. As legendas em latim, com algumas anotações manuscritas em português vetusto. Uma experiência epifânica. Um espanto absoluto. Que segundo parece se esconde na Biblioteca Nacional de Espanha!

Andei pela net a ver se encontrava reproduções desses fantásticos desenhos para partilhar alguns aqui no Guia mas nada de nada. Teremos de remediar isso.


segunda-feira, dezembro 13, 2004

Hoje a terra tremeu. 


domingo, dezembro 12, 2004

ALEXANDRIA, ANNO DOMINUM 

Conversa de Assuero, judeu de Alexandria, filho de Mardoqueu, neto de Hiskias, futuramente o lendário Judeu Errante, com Queremon, sacerdote de Ísis:

«Queremon, depois de me ter feito sentar perto dele, juntou as mãos, recolheu-se e pronunciou a seguinte oração na lígua vulgar do Baixo Egipto:

Ó meu Deus, pai de tudo,
Deus santo que te manifestas aos teus,
Tu és o santo que tudo fizeste pela Palavra,
Tu és o santo cuja natureza é a imagem,
Tu és o santo não criado pela natureza,
Tu és o santo mais poderoso que toda a potestade,
Tu és o santo mais excelso que toda a elevação,
Tu és o santo superior a todo o louvor.
Recebe o sacrifício de acção de graças do meu coração
e das minhas palavras
Tu és inefável e o silêncio é teu apanágio.
Tu abolistes os erros contrários ao verdadeiro conhecimento.
Aprova-me, confirma-me e faz participar nesta graça
todos os que ainda se encontram na ignorância, tanto quanto
todos os que já te conhecem e que por isso mesmo
são meus irmãos e teus filhos.
Creio em ti e confesso,
Ascendo à vida assim como à luz,
Quero participar na tua santidade,
E és tu quem me inspira esse desejo.


Quando Queremon terminou a oração egípcia, voltou-se para mim e disse: «Meu filho, como estais a ver, também nós conhecemos um Deus que criou o mundo através da Palavra. A oração que acabais de escutar é retirada do Poimandrés, livro que nós atribuímos a Thot três vezes grande, cujas obras são levadas em procissão em todas as nossas festas. Existem entre nós vinte e seis mil rolos, que passam por terem sido escritos por este filósofo que viveu há dois mil anos. Mas como só os nossos sacerdotes podem executar cópias deles, é possível que tenham acrescentado mais algumas coisas. (...) Como todas as coisas deste mundo, as religiões estão submetidas a uma força lenta e contínua, que tende incessantemente a alterar a sua forma e a sua natureza, de tal maneira que, ao fim de alguns séculos, acontece que uma reigião que se julga ter sido sempre igual acaba por oferecer à crença dos homens outras opiniões: alegorias em cujo sentido já não se consegue penetrar, dogmas em que já só se acredita por metade. (...) Recomendo-vos em primeiro lugar que não vos agarreis muito nem à imagem nem ao emblema, mas que vos dediqueis a captar o espírito de todas as coisas. Assim, o barro representa tudo o que é material. Um deus sentado numa flor de lótus, flutuando sobre o barro, representa o pensamento que repousa sobre a matéria sem a tocar. É o emblema de que se serviu o vosso legislador [Moisés], quando afirmou que o espírito de Deus se movia sobre as águas.»

(Manuscrito encontrado em Saragoça (volume 2), Jan Potocki, Cavalo de Ferro editores)

A exegese é um desporto radical 

Li ontem no suplemento Actual do inefável Expresso uma interessante entrevista ao também inefável cónego Carreira das Neves (sem link), a propósito do livro A verdadeira história de Jesus de E.P.Saunders. Nessa entrevista, aquele teólogo produz um verdadeiro exercício prático de exegese cristológica. Um exercício que dá bem para ver porquê tantos preferem ignorá-la para ancorarem a sua fé nos terrenos da convicção simplista e acrítica. Cada vez acredito mais que só o estudo desapaixonado das fontes da nossa fé, do seu valor histórico e teológico, levará à nossa plena consciência enquanto crentes em Cristo. Na certeza de que o caminho é estreito e arriscado...Um exemplo, Carreira das Neves dixit: "E nos Evangelhos tudo é em diferido. Tudo. Seja nos sinópticos, seja em João. (...) porque parte tudo da ressurreição."
Simultaneamente, continuo às voltas com o livro que me tem divertido neste último mês, uma espécie de 1001 noites européia, escrita em fins do séc.XVIII pelo polaco Jan Potocki: «Manuscrito encontrado em Saragoça», em dois volumes, editados pela excelente Cavalo de Ferro. Este fim de semana li por lá, numa daquelas inumeráveis histórias, contidas em tantas outras, algo que me fez lembrar coisas ditas na tal entrevista. Fica o trecho para o post seguinte.


sexta-feira, dezembro 10, 2004

Confissões de um viciado em adrenalina 

E lá tenho eu andado de cá para lá e de lá para cá. A correr, quase sem pensar. Ando a seguir o Outlook em vez de seguir o que sinto. Aliás, nem sei bem já aquilo que sinto. Um alívio enorme a meias com uma frustração inapagável. A sensação de que safei a coisa in extremis. Um estranho gozo e orgulho por esse facto mas uma dúvida sobre aquilo que verdadeiramente safei. Uma pressa de acabar e uma pressa de começar tudo de novo. Um cansaço moral a meias com um corpo a queixar-se de maus tratos. A ideia de que estou a fazer o que definitivamente tinha de ser feito a colidir com o que leio nos olhos da minha mulher. E nos olhos dos meus filhos, a quem já não levo todos os dias à escola e que, à noite, estão sempre já deitados, acordados ainda à espera que o pai abra a porta. E então a angústia de termos apenas 5 ou 10 minutos para pôr a conversa em dia, mas também a satisfação profunda de os estar a ver a crescer bem, como nós tínhamos falado: ele igualzinho a mim, ela uma fotocópia da mãe. A possibilidade entrevista de os ajudarmos a serem versões melhoradas de nós próprios.
E no meio disto tudo uma dúvida a martelar-me: qual será, por aquilo que falei acima, o damage done, como tem andado o Neil Young a cantar no meu carro. A mim, a eles, a nós. E uma certeza embaraçosa: aquilo que faço, faço-o por que tenho mesmo de o fazer mas não é só por isso - é também porque sou viciado naquilo, na adrenalina.
Que Deus me perdoe e ilumine.

Update blogosférico 

Depois de ausências sucessivas e intermitentes voltei agora aqui e deparo-me com coisas novas debaixo do sol. Uma delas é o regresso d´A Quinta Coluna, um dos meus blogues favoritos dos meus primeiros tempos de blogosfera. O CC, o AR e o LR voltam juntos de novo às lides e às faenas. Verdade se diga que aquilo tinha acabado um bocado mal, com o CC (o cavaleiro da Imaculada!) reduzido a partículas elementares, o AR padecendo de uma dôr de perdição e o LR ausente em parte incerta. Assim é que está bem!!!

segunda-feira, dezembro 06, 2004

Pacem in Terris 

Convém sempre lembrar quando é dia de TdA. Hoje a cargo do Marco e do Zé Filipe. O Marco começa a partilhar connosco a visão baha´i sobre quem está a escrever o futuro. Já o Zé Filipe acabou de me inutilizar o texto que eu preparava esforçadamente para 4ªfeira...fazendo umas interessantes considerações sobre uma série de artigos do Frei Bento Domingues no Público, sob o nome de Pastoral da Incredulidade, e que deu polémica em muitos meios católicos. A propósito disso o Zé Filipe faz uma bela reflexão sobre a desconstrução da fé, bem a propósito destes tempos em que se fala da Nova Evangelização. Ao ler o que ele escreveu tive uma sensação estranha: a de ler na pena de outro reflexões muitíssimo próximas das minhas.
E fica assim uma nota para os nossos dedicados editores: vamos a ver se me desenrasco até 4ªfeira...


Adaptado 

Estai preparados, dizia um cartaz pendurado junto ao altar na missa de ontem. Eis aí uma mensagem adventícia que me irrita. Não pelo seu significado teológico, obviamente, mas por razões minhas.
Estar preparado. Para tudo. Foi uma decisão que tomei em fins da minha adolescência. Foi uma decisão estruturante. E, vejo-o hoje, foi uma decisão irreparável. Uma decisão que me tomou senhor do meu caminho mas que me fez escravo da circunstância. Já explico.
Vigiai. E tenho vigiado sempre. Vigio o que me rodeia. Vigio os que me rodeiam. Vigio as oportunidades e as ameaças tentando distingui-las. Vigio a expressão do olhar, a entoação do falar da pessoa à minha frente, tentando sempre prescrutar o que lá vai por detrás. Vigio os acontecimentos à minha volta, tentando sempre descortinar neles um padrão que me permita antecipar o que vem aí. Vigio-me a mim próprio, tentando estar sempre à altura do que me cabe em sorte.
E, obviamente, estou farto. É verdade que isso que decidi me tem trazido uma sensação parecida com a de liberdade, uma sensação de que o que fiz e tenho e dei, tudo isso é fruto de escolhas minhas. Uma sensação de liberdade que foi aumentada ainda pelo facto de o dom da fé me ter permitido de quando em vez oferecê-la à noção de que há uma Vontade superior à minha, à qual penso sujeitar-me de bom grado, como se a minha condição me oferecesse outra alternativa.
Mas vejo hoje que essa liberdade que pensava ter, apenas pelo facto de ser capaz de decidir em cada encruzilhada da vida o caminho que claramente devia seguir, essa liberdade não é verdadeiramente liberdade. O facto de, penso eu, estar preparado para qualquer circunstância, tornou-me escravo, repito, dessa circunstância. Qualquer que ela seja, eu habituei-me a aceitá-la e a agir por forma a tirar o melhor partido dela ou, pelo menos, não ser destruído por ela. E, já se sabe, aquilo que não nos destrói, torna-nos mais fortes, mais preparados, mais predispostos a lidar com a circunstância, qualquer que seja a que se nos apresente.
Circunstância. Eis uma palavra, um conceito, que fiquei a odiar. Tanto a aceitei, a contornei, a utilizei, a manobrei, que hoje estou contido nela, faço dela parte, dela já não sei saír. E essa coisa desagradável aconteceu-me por uma razão simples e meritória: estive sempre preparado.
Daí que neste tempo de Advento, vou reflectir um bocado sobre se é assim tão necessário estarmos preparados para Deus. Como se isso fosse possível. Como se essa preparação, inquinada sempre pelo inefável orgulho humano, não nos fechasse mais em nós mesmos, afastando-nos talvez Dele.
Mas não sei bem. À cautela vou reler o Ecclesiastes...


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