quarta-feira, setembro 28, 2005
repeat
Não é novo mas sim repescado. Não é propriamente meu mas adaptado de Daniel Faria, que descansa em Deus. Mas, hoje 4ªfeira, já passa das oito da noite, apetece-me pô-lo aqui outra vez:
Há muito que
fiquei mal situado
com a vida em suspenso
fora dos mapas
sem horários
como que com os pés fora do chão
com filhos quase órfãos
e mulher quase viúva.
Há muito que
fiquei agitado
e sem sítio onde pousar.
Há muito que
ando por caminhos esburacados
a querer passar por atalhos inventados.
Há muito que
ando separado de outros destinos.
Às vezes pergunto-me
o que sobrará
após a negação das estratégias.
Às vezes ando escondido
como um mau artista
e ando encarcerado
fechando-me na casca.
Às vezes penso ter danos inconfessados.
Às vezes penso ser um sobrevivente viúvo.
Às vezes penso ser um homem que foi tirado
do lugar.
Às vezes vejo-me
numa esplanada
já virado para a velhice
muito danificado pelas intempéries.
Às vezes sinto-me
cheio de energia
mas ligado à terra
parado à espera
de um recomeço possível
para o eu interior.
Às vezes ando
revoltado por modo de ser
com um olhar fixo sem ver nada
caminhando ao encontro
de mim mesmo.
E eu que sou
tão preparado e tão prevenido
para o que der e vier
ando ao vento com as mãos nos olhos
sonhando regressos.
Tão impreparado afinal
tão desprevenido
tão confuso à espera
de um oásis qualquer
onde me seja possível
uma sombra ter.
Há muito que ando
dobrado pelo pensamento.
Há muito que vim devagar
e quis correr
as persianas
para ver no escuro
como era o presente.
Há muito que tapo
dia após dia o sofrimento.
Há muito que percorro na sombra
uma demanda cerebral.
Há muito que chuto
a pedra da loucura
fechando as pupilas.
Há muito que abro caminho
à procura dessa pedra temida.
Eu tenho a cabeça aberta
condenada ao pensamento
que procura sempre
um lugar onde amanheça.
Há muito que me quero
sentar para ver uma manhã.
Há muito que espero
o meu lugar
para a saída.
Há muito que
fiquei mal situado
com a vida em suspenso
fora dos mapas
sem horários
como que com os pés fora do chão
com filhos quase órfãos
e mulher quase viúva.
Há muito que
fiquei agitado
e sem sítio onde pousar.
Há muito que
ando por caminhos esburacados
a querer passar por atalhos inventados.
Há muito que
ando separado de outros destinos.
Às vezes pergunto-me
o que sobrará
após a negação das estratégias.
Às vezes ando escondido
como um mau artista
e ando encarcerado
fechando-me na casca.
Às vezes penso ter danos inconfessados.
Às vezes penso ser um sobrevivente viúvo.
Às vezes penso ser um homem que foi tirado
do lugar.
Às vezes vejo-me
numa esplanada
já virado para a velhice
muito danificado pelas intempéries.
Às vezes sinto-me
cheio de energia
mas ligado à terra
parado à espera
de um recomeço possível
para o eu interior.
Às vezes ando
revoltado por modo de ser
com um olhar fixo sem ver nada
caminhando ao encontro
de mim mesmo.
E eu que sou
tão preparado e tão prevenido
para o que der e vier
ando ao vento com as mãos nos olhos
sonhando regressos.
Tão impreparado afinal
tão desprevenido
tão confuso à espera
de um oásis qualquer
onde me seja possível
uma sombra ter.
Há muito que ando
dobrado pelo pensamento.
Há muito que vim devagar
e quis correr
as persianas
para ver no escuro
como era o presente.
Há muito que tapo
dia após dia o sofrimento.
Há muito que percorro na sombra
uma demanda cerebral.
Há muito que chuto
a pedra da loucura
fechando as pupilas.
Há muito que abro caminho
à procura dessa pedra temida.
Eu tenho a cabeça aberta
condenada ao pensamento
que procura sempre
um lugar onde amanheça.
Há muito que me quero
sentar para ver uma manhã.
Há muito que espero
o meu lugar
para a saída.
domingo, setembro 18, 2005
This is Major Tom to Ground Control
This is Major Tom to ground control
I'm stepping through the door
And I'm floating in the most peculiar way
And the stars look very different today
For here am I sitting in a tin can
Far above the world
Planet Earth is blue, and there's nothing I can do
Though I'm past 100,000 miles
I'm feeling very still
And I think my spaceship knows which way to go
Tell my wife I love her very much, she knows
Pois é. Tenho andado tão longe, há tanto tempo, que só hoje, ouvindo o velho Bowie, é que descobri o mote de que andava precisado para a minha reentrada na blogosfera. Espero bem que as placas refractárias estejam todas no lugar e bem presas para que a coisa não acabe mal...
Descobri também, incrivelmente, graças à boa da Maria da Conceição, sempre clemente e compassiva, talvez a minha melhor cliente, que este meu modesto estabelecimento fez dois anos! E já há uma semana! Realmente o sintoma não é famoso: ao fim de dois anos já me esqueço que faço anos. Mas não sendo famoso é sem dúvida sintoma. Ainda não sei bem é de quê. Olho para o dashboard do blogger e o monitor não engana: 12 posts em Junho, 6 em Julho, 2 em Agosto, 0 em Setembro tanto aqui como na Terra. Olho, como sempre, para o trend e fico preocupado. Preocupado não define bem: fico lixado. Lixado porque este auto-proclamado Guia tem uma freguesia curta mas boa. Há por aí dúzia e meia de excelentes pessoas que há que tempos me tem vindo visitar, persistentemente, regressando às suas paragens sem levarem sequer ao menos um daqueles aforismos que eu laboriosamente produzia mas que já certamente alguém tinha pensado e escrito. Ainda assim é chato.
I'm stepping through the door
And I'm floating in the most peculiar way
And the stars look very different today
For here am I sitting in a tin can
Far above the world
Planet Earth is blue, and there's nothing I can do
Though I'm past 100,000 miles
I'm feeling very still
And I think my spaceship knows which way to go
Tell my wife I love her very much, she knows
Pois é. Tenho andado tão longe, há tanto tempo, que só hoje, ouvindo o velho Bowie, é que descobri o mote de que andava precisado para a minha reentrada na blogosfera. Espero bem que as placas refractárias estejam todas no lugar e bem presas para que a coisa não acabe mal...
Descobri também, incrivelmente, graças à boa da Maria da Conceição, sempre clemente e compassiva, talvez a minha melhor cliente, que este meu modesto estabelecimento fez dois anos! E já há uma semana! Realmente o sintoma não é famoso: ao fim de dois anos já me esqueço que faço anos. Mas não sendo famoso é sem dúvida sintoma. Ainda não sei bem é de quê. Olho para o dashboard do blogger e o monitor não engana: 12 posts em Junho, 6 em Julho, 2 em Agosto, 0 em Setembro tanto aqui como na Terra. Olho, como sempre, para o trend e fico preocupado. Preocupado não define bem: fico lixado. Lixado porque este auto-proclamado Guia tem uma freguesia curta mas boa. Há por aí dúzia e meia de excelentes pessoas que há que tempos me tem vindo visitar, persistentemente, regressando às suas paragens sem levarem sequer ao menos um daqueles aforismos que eu laboriosamente produzia mas que já certamente alguém tinha pensado e escrito. Ainda assim é chato.
Quanto às razões deste teimoso silêncio elas são variadíssimas e são também minúsculas. Ainda assim vou reflectir, talvez em próximos posts, sobre porque é que nestes tempos de secas, fogos e reaparições fantasmáticas que parecem pragas bíblicas mas mais não são que sinais vivos da deliquescência lusa, nestes tempos de furacões, mensalões e esquadrões, que parecem sinais do Apocalipse, eu permaneça mudo. Eis assim pois o tema que me faltava: nestes tempos que correm como é que é possível eu não encontrar tema ou assunto que levante a minha inércia bloguística? Fiquem pois a aguardar, sentados talvez.
Mas sou uma pessoa educada. Apesar do irreparável atraso, quero agradecer a todos (não foram tantos assim, felizmente) que, ao contrário de mim, não se esqueceram dessa irrelevante efeméride. E, a propósito disso, quero agradecer às pessoas que me fazem querer ficar por aqui em vez de andar por aí. Falo de todos os meus amigos e companheiros da Terra, essa coisa rara, magnífica. Falo em particular das cinco pessoas que, desde o início, me acompanharam sempre, mais do que elas possam pensar: o Fernando Macedo, o CC, o Tiago Cavaco, a Maria da Conceição e o Vizinho do mar. Falo também da Sara Monteiro, do Marcus, e de todos os outros que prefazem a tal dúzia e meia. Duas dúzias, contando bem são duas dúzias.
Digam pois ao povo que fico!