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quinta-feira, janeiro 12, 2006

espera de Deus 

Não sei quem Tu és, se és homem ou Deus, fantasma ou miragem, mas receio que Tu te tenhas enganado. Temo não ser aquele que Tu procuras. A questão não está muito clara, mas parece-me ter percebido que Tu quererias levar-me mais para lá, cada vez mais para lá, mais para o centro, até às fronteiras do Teu reino ignoto.
Compreendo, e até seria interessante. Tu és paciente, esperas-me nas encruzilhadas solitárias para me ensinar o caminho, és verdadeiramente discreto, até dás mostras de fugir de mim e nem ousas revelar o Teu rosto. Queres apenas dar-me a perceber – parece-me – que o Teu Pai me espera no meio do deserto, no palácio branco e maravilhoso, onde cantam fontes encantadas. Mas a minha alma é incorrigivelmente tímida; debalde a admoesto; as suas asas tremem assim que é levada até ao limiar das grandes aventuras. Sou assim, infelizmente, e receio muito que o Teu Pai desperdice o Seu tempo à minha espera no palácio branco no meio do deserto, onde provavelmente eu seria feliz.

(adaptação quase literal de Dino Buzzati, Espírito do Sul in «Os sete cavaleiros» , Cavalo de Ferro ed., um livro fabuloso como fabuloso é «O deserto dos tártaros»)

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