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sexta-feira, abril 30, 2004

Rumos 

Nesta semana de (mais um) impasse tenho derivado um bocado pela blogosfera, coisa que não fazia há muito. E descobri uns blogues interessantes que já puz ali ao lado.
Comecemos por um, descoberto com surpresa numa pesquisa feita no Google. Andava eu à busca de coisas sobre a Rita Wemans e aparece-me um blogue a dizer enchamos tudo de futuros! Muito bom. A Rita era alguém que dizia que "vale a pena sorrir quando o que esperam de nós são lágrimas".
Sempre simpatizei com os bahá´is. Eis uma religião que nunca foi corrompida pelo poder secular. Nunca teve cruzados nem mujhaedins. Nunca teve inquisidores nem salafitas. E sempre desejou um sincretismo universalista. Sempre se acharam crentes das crenças dos outros. Posso estar enganado mas penso que nunca ninguém matou em nome de Bahá. Encontrei-os agora na blogosfera, o povo de Bahá. Deus os abençoe.
E para terminar, algo muito especial. Eis um blogue que, como todos os blogues, mas talvez mais ainda, deve ser lido do princípio. É dum brasileiro, culto e inteligente, imigrante (sem papéis?) em Lisboa e que, com uma humildade e simplicidade desarmantes, procura encontrar o seu lugar nesta cidade menos acolhedora do que se apregoa. Estou a falar das Cartas de Lisboa. Não resisto a trancrever o seu primeiro post, que serviu para o sub-título do blogue:

Se vens a uma terra estranha
curva-te
se este lugar é esquisito
curva-te
se o dia é todo estranheza
submete-te
- és infinitamente mais estranho



Que os Animais se multipliquem pela Terra 

Não consigo esconder a minha satisfação por a Terra ter sido criada. E por nela eu ter encontrado estes 5 companheiros, ou melhor, conterrâneos, únicos na sua individualidade, unos na vontade de viver a Fé e de a contar aos outros.
Mas penso também que os créditos da coisa não podem ser distribuídos apenas por nós próprios. Não podemos nem queremos esconder que o aparecimento dos Animais Evangélicos, com o seu carisma e linguagem nova, foi algo que quisemos emular. Iremos seguramente ser diferentes mas teremos algo muito forte em comum.
E por muito que as nossas Igrejas discutam prevalências, identidades e exegeses, nós, cá em baixo, continuaremos amigos que sabem que há coisas que não são para ser levadas demasiado a sério.
Hoje o Tiago Cavaco diz-nos à la Bogart que this could be the beginning of a beautiful friendship. E eu respondo-lhe já: we´ll always have Rome...

quarta-feira, abril 28, 2004

E eis-nos chegados à terra da alegria 

Começa hoje um novo blog semanal. Recordo hoje as primeiras palavras aqui ditas sobre este projecto: "Unidade e diversidade. Uma semente de amizade. Um desejo de verdade. Uma vontade de testemunho. Figueiras que querem dar fruto". Deus permita que assim seja.

terça-feira, abril 27, 2004

Canção do cansaço 

Passam os dias
e passam as semanas.
Do nada surgem
esperanças ufanas
que morrem na praia,
ocas, vazias, planas.
Mantenho uma calma
inútil, como escória,
sem que nada me saia
do fundo da alma
senão umas ganas
de acabar de vez,
arrumar a história
e descansar a cabeça
e o corpo e, às três
saír, sem que ninguém mo peça,
mas carregando a memória
do que podia ter sido feito e não se fez,
do que podia ter vindo e não veio.
Quisemos café, tivemos chicória.
Quisemos trigo, tivemos centeio.
Tivemos coragem, até desfaçatez,
mas não tivemos o tino,
hoje sei-o,
de ver que este era o destino
que teimava em se nos mostrar.
E por isso receio
que tudo quanto havia a dar,
já o demos, eles e nós,
ano após ano, mês após mês,
mas tudo perdemos, até a voz,
de tanto falar, vender, pedir, rezar.
E agora que estes nós
parecem estar-se a desatar
e que tudo isto parece
estar-se finalmente a consumar,
eu peço a Deus que nos ilumine
e nos dê a grandeza
de saber aceitar
o que aí vem
e nos proteja a todos,
também.


segunda-feira, abril 26, 2004

Desinfestações 

Descubro, desolado, que chegou um visitante ao meu Guia através duma pesquisa no Google sobre Rentokill Portugal. Tenho de reler urgentemente esta coisa desde o início. O que será que tenho andado aqui a escrever?


Frases que eu gostaria de ter escrito (2) 

Eis uma coisa que há muito que eu penso mas ainda não tinha dito. Disse-o agora o Timshel e ainda bem: "Poder-se-ia pensar que, em resultado das minhas convicções católicas, a certeza fundamental (...) seria a da existência de Deus. Não. A certeza que eu considero fundamental e axiomática é a de que nos devemos comportar como se Deus existisse".

sexta-feira, abril 23, 2004

O animal da semana é 

João Leal: "não posso deixar de pensar na sensação de intemporalidade que o ser cristão me traz".

JHVH 

Eu sou Aquele que sou
Eu sou Aquele que sei
Eu sou Aquele que dá
Eu sou Aquilo que dou
Eu sou Aquele que vê
Eu sou Aquele que gera
Eu sou Aquele que espera
Eu sou Aquele que chora
Eu sou Aquele que ri
Eu sou Aquele que ouve
Eu sou Aquele que move
Eu sou Aquele que fica
Eu sou Aquele que vela
Eu sou Aquele que quer
Eu sou Aquele que aceita
Eu sou Aquele que brilha
Eu sou Aquele que não se vê
Eu sou Aquele que acende
Eu sou Aquele que apaga
Eu sou Aquele que ama
Eu sou Aquele que deixa
Eu sou Aquele que consola
Eu sou Aquele que morreu
Eu sou Aquele que vive
Eu sou Pai, sou Filho, sou Espírito
Eu sou O que é em vós
Eu sou

Maimónides e os atributos de Deus 

O meu caro amigo Nuno Guerreiro, agora unido pelo sacramento do matrimónio, lembrou há tempos que o meu blogue tem o nome da obra maior do grande rabino medieval ibérico Maimónides, obra em que, entre outras coisas, dissertou sabiamente sobre os atributos de Deus.
Desde esse post do Nuno fiquei a pensar sobre qual seria a minha visão desses atributos. Daí o meu próximo post...

quinta-feira, abril 22, 2004

Dos estados de alma 

Feliz aquele que administra sabiamente
a tristeza e aprende a reparti-la pelos dias

(de Ruy Belo e dedicado a um outro Rui)

quarta-feira, abril 21, 2004

Omar Bakri, Arnaud Amaury - a mesma luta (act.) 

O David Bengelsdorff tem toda a razão ao comparar o famigerado Omar Bakri com os fanáticos promotores da cruzada contra os cátaros no Languedoc francês no início do séc.XIII. O líder "espiritual" desta cruzada, enviado especial do papa Inocêncio III para combater a heresia cátara, era um tal Arnaud Amaury, mais tarde recompensado com o arcebispado de Narbonne. Este benemérito, por alturas do cerco e massacre de Béziers em 1209, ao ser-lhe perguntado pelos cruzados como fariam para distinguir os hereges cátaros dos seus conterrâneos católicos, terá proferido uma frase que ficou terrivelmente célebre: "Matem-nos a todos. Deus saberá distinguir os seus"!
Nesse tempo, em que a Cristandade e o Islão se entrechocavam na Terra Santa, a civilidade e a tolerância pareciam estar mais pelos lados do Islão enquanto que o fundamentalismo da morte andava à solta pela cristandade.
Hoje passados 8 séculos ao ouvir este Omar a dizer "Nós não fazemos a distinção entre civis e não civis, inocentes e não inocentes. Apenas entre muçulmanos e descrentes. E a vida de um descrente não tem qualquer valor. Não tem santidade...os muçulmanos que morrerem num ataque serão aceites imediatamente no paraíso como mártires. Quanto aos outros, o problema é deles.", ele parece-me muito mais próximo desse tenebroso Amaury do que do outro Omar, o primeiro califa muçulmano que, após ter conquistado Jerusalém, sem quaisquer massacres de cristãos e judeus, recusou visitar a Igreja do Santo Sepulcro por recear que os seguidores do Profeta a quisessem transformar mais tarde num santuário do Islão. Mas não deixou de prestar os seus respeitos à Igreja e ao Jesus a que ela estava consagrada rezando cá fora, no terreiro, juntamente com o bispo cristão.
Enfim, a História avança inexoravelmente, só que nem sempre para a frente. Uns avançam, outros recuam e o Mal e o ódio permanecem.

Act.: ler o post de 23 de Abril no A bordo

Nascido nos idos de Março 



terça-feira, abril 20, 2004

Orgulho e fé 

Como combater "aquele secreto orgulho que a propósito da devoção se insinua no coração humano*"?

(* Edward Gibbon)


segunda-feira, abril 19, 2004

O califa Omar 

Ao ler ontem no Público a tenebrosa entrevista daquele teórico do Islão radical na Europa, um tal de Omar Bakrin, e ao ver as reacções de choque e pavor que por aí tem suscitado, recordei-me de dois dos meus primeiros posts aqui no Guia, um de 17 e outro de 18 de Setembro último, sobre a ligação da religião e política no Islão. Se me permitem, vou citar o que então escrevi:
"Para o muçulmano, Deus não é Pai como para os cristãos: Deus é o Senhor ao qual devemos ser totalmente submissos (é literalmente isso o que quer dizer muçulmano) e isto em todas as dimensões da vida: pessoal, familiar, social, económica, política. No Islão não há direita nem esquerda, quando muito há literalistas (que às vezes derivam em fundamentalistas) e reformistas. Toda a acção política deve ser feita em nome de Deus, toda a legitimação do poder vem de Deus. Pensar que o Estado pode ser independente da Fé é algo importado do Ocidente, que encontrou sempre e encontra hoje enormes resistências. Como talvez saberão, o árabe é a línguagem sagrada do islamismo e nela não há palavra que se aproxime sequer do conceito do secularismo".
"O que disse ontem sobre o Islão não é uma crítica: é uma constatação sobre a sua natureza essencial. Aliás se pensarmos na génese desta grande religião universal é fácil de perceber que tenha adquirido as suas características únicas.
Maomé tem a sua revelação na Arábia, num ambiente político e religioso desagregado, dividido em múltiplas tribos e crenças pagãs , entalado entre dois fortes impérios com fortes religiões de estado: o império romano do oriente cristão e o império persa sassânida zoroastriano. Para Maomé a adesão do povo árabe à nova Fé a ele revelada passava necessáriamente pela unificação política, para o que muito contribuiu a noção tão forte da necessidade de sujeição absoluta a Deus como carácter essencial da relação entre o Homem e Deus. Sendo assim, naturalmente, Maomé tornou-se num líder político e militar. Morreu pouco após ter conquistado Meca e criado uma identidade política una no Hedjaz e deixando o Alcorão como a Mensagem Divina Revelada que substituía não só os paganismos árabes pré-islâmicos como o judaísmo e cristianismo então muito difundidos na Arábia. Deixou um conjunto enorme de preceitos corânicos de foro pessoal, familiar, social, cultural, político, que os seus sucessores transformaram em lei, a “Sharia”. Deixou também uma mensagem muito clara de que a nova religião era universal e que o mundo todo era “dar-al-Islam”, terra do Islão, isto é, devia mais tarde ou mais cedo tranformar-se em terra sujeita à Lei de Deus.
É pois evidente que a indissociabilidade entre política e religião faz parte do código genético do Islão. Os espantosos sucessos militares e religiosos que fizeram, em duas ou três gerações após Maomé, estender a terra do Islão desde a península Ibérica à China foram para os muçulmanos a prova última de que Deus estava com eles e que a sua religião tão mais simples de que as demais era efectivamente a derradeira e definitva revelação divina. A partir daí estava tudo lançado. O extraordinário desenvolvimento da civilização islâmica, como que um terreno virgem que foi beber tudo à ciência grega pré-cristã, à cultura persa e também hindu, isto numa altura de brutal retrocesso civilizacional no mundo ocidental cristão (estamos dos secs. VIII e IX DC), foi a cereja no bolo: estava encontrada a verdade definitiva sobre Deus e essa verdade estava no Corão que respondia a todas as questões que se podiam então colocar ao ser humano.
Tenho para mim que a interpenetração total de todas as dimensões humanas numa fé religiosa com a eliminação de toda a dialética entre o secular e o religioso poderá ser uma das causas principais da cristalização não só da fé como da própria civilização islâmica
".

Pois é. "Hard times are coming..."

sexta-feira, abril 16, 2004

Pai e filho 

Ontem fui finalmente ver o filme. Achei-o lindo, tocante, edificante mesmo. A extraordinária cena final da morte, antevista muito antes pelo pai, revista agora pelo filho, oferecida por ele, é simplesmente fabulosa. É nela que o pai e filho se reencontram. E é então que se dá a redenção do filho por amor ao pai e pelo amor do pai.
Estou naturalmente a falar do "Big Fish" de Tim Burton. Um grande, grande filme. Um filme que me fez feliz. Feliz por ser pai e amar meus filhos e por ser filho e amar meus pais. Feliz por ver que o extraordinário pode existir ao nosso lado, sem darmos por isso, até darmos por ele.
E como são fascinantes as histórias contadas por Ed Bloom! Dou aqui um exemplo:
"Os papagaios do Congo falam várias línguas. Mas conversam entre eles apenas em francês. E conversam sobre tudo, excepto sobre religião. Porquê? Porque quando falam de religião há sempre alguém que se ofende".

quinta-feira, abril 15, 2004

Milagre! Uma imagem no Guia! 



Estive aqui e não há fotografia que lhe faça justiça.

quarta-feira, abril 14, 2004

Bem dito 

Este é um dos meus blogues favoritos. Fala-se ali claro e em bom português. Senão vejam o que ali se escreveu no passado Sábado: "igualmente incompreensíveis, são aqueles que não fazendo parte da Igreja (não no sentido institucional mas no de comunidade), porque nela não acreditam, tentam a todo o momento definir as suas regras. Embora não reconheçam o papel eucarístico dos padres, querem que estes se possam casar; Embora não assistam à missa, exigem que as mulheres sejam ordenadas; embora não acreditem no mistério da fé (por não a terem), querem que os divorciados e os não baptizados possam comungar; embora não relevem a vinda de Cristo à terra, insurgem-se por um filme que retrata parte da mesma não mostrar (na sua óptica) amor mas só violência". Ora nem mais.
Há por aí tanta gente que clama pela laicidade do estado e pela sua separação da religião mas que adora dar a sua achega em assuntos de Igreja e de fé...

terça-feira, abril 13, 2004

Páscoa bucólica 

Nesta Páscoa pode dizer-se que fugi. Farto destes dias de chumbo que se repetem peguei na família e desde 5ªFeira Santa até ontem estive ausente no país profundo, numa casa familiar e campestre, sem internet mas com livros e jornais, e árvores espantosas, e pássaros por todo o lado, e caminhos intransitáveis mas que levam a sítios únicos. Numa terra onde os sinais de devoção popular em Semana Santa, são omnipresentes. Numa terra onde há via sacra e vigília pascal a que todos vão. Numa terra em que o compasso palmilha quilómetros e quilómetros para a visita pascal, casa após casa, recebido sempre com foguetes, pão-de-ló e vinho do Porto. Numa terra tão longe, que está perto de sítios onde nunca iria de outro modo.
Estivemos num mosteiro beneditino anterior à nacionalidade, quase em ruínas, escondido num vale belíssimo e junto ao ribeiro mais belo que alguma vez vi. Sente-se ali uma cristandade vetusta que procurava certamente aí a paz e a discrição, talvez o esquecimento. Respira-se ali ainda uma espiritualidade diferente daquela que é possível hoje mas que se sente ainda pois tudo aquilo parece eterno. O mosteiro está num local de tal forma remoto e isolado que praticamente não vimos mais ninguém para além do nosso grupo. Enfim um bálsamo para um Sábado de Aleluia a não esquecer.
Mas também li um bom bocado. Até jornais. E li coisas interessantes, profanas e não profanas.
Li um excelente artigo do António Barreto em que ele diz algumas coisas sábias: "Há tempos assim, em que nos querem encostados à parede, em que vivemos rodeados de círculos de fogo, em que a razão é substituída por um qualquer automatismo, em que o pensamento mecânico vive do preconceito e da dependência e em que o cliché e a banalidade substituem o esforço de raciocínio rigoroso e independente."; "Sou ocidental, considero que a dita civilização do mesmo nome é a principal obreira, nos tempos modernos, da liberdade e da dignidade do indivíduo, sendo também a que, nos últimos séculos, mais contribuiu para o desenvolvimento da cultura e das ciências. Penso também que, mau grado horrores recentes conhecidos, pertencem a essa área do mundo praticamente todos os exemplos de vida decente. Sei que esta civilização está sob ameaça séria, dos seus próprios defeitos, com certeza, mas sobretudo dos seus inimigos, que a querem simplesmente destruir e conquistar....Nem me reconheço na hipocrisia suicida de grande parte dos políticos europeus que, perante o terrorismo e as ameaças contra o mundo ocidental, escolheram a complacência e a cedência como estratégia da sua eventual salvaguarda. Considero-os, europeus de direita e de esquerda, tão responsáveis quanto os americanos na catástrofe iraquiana e no impasse palestino e israelita.....Sou de esquerda mas não me reconheço nas políticas ditas de esquerda em vigor no meu país. Não partilho a sua agressividade boçal, nem a sua arrogância própria dos "moralmente superiores" e dos "intelectualmente dotados". Não me revejo na sua dúplice atitude ou na sua complacência criminosa diante da violência e do terrorismo. Não aceito a sua permanente vontade de gastar o que não se produz e distribuir o que não se poupou".
Li também com interesse profilático a prosa dum capitulacionista a querer ser porta-voz. Um monumento...
E li muita coisa interessante sobre a Páscoa dos cristãos. Tenho até a impressão que nunca se escreveu tanto sobre a nossa Fé. O bom Frei Bento escrevia sobre Ressurreição e insurreição. E escreveu coisas interessantes: "No entanto, assim como me parece absurdo pensar que Jesus tenha alguma vez renegado o judaísmo, também me parecem exageradas as tentativas para o domesticar e alinhar apenas pelas preocupações do judaísmo do seu tempo. O comportamento de Jesus revelou, em gestos e palavras, uma teologia da graça de Deus tão radical - acolhendo todos os excluídos com amor incondicional - que não cabia em nenhum esquema segregacionista. Realizou, no singular mais restrito, o infinito do dom. O Deus de Jesus não dependia da lei de Moisés"; "Jesus passou a sua existência terrestre - segundo o que dela sabemos - numa insurreição permanente contra tudo o que degrada a vida humana. Essa insurreição era para ele uma questão de obediência à vontade de Deus e dela se alimentava. O Crucificado, o rejeitado por uma coligação de interesses, abriu, a todos, o caminho e o processo da ressurreição. Jesus, ao perdoar aos próprios inimigos, ao entregar nas mãos do Deus vivo aqueles que o entregavam à morte, consumou a sua insurreição contra tudo o que degrada e separa os seres humanos, isto é, o poder do ódio, o poder da morte. A partir daquele momento Jesus Cristo era, é e será para sempre uma vida dada". Muito bem visto.
Dois dias antes tínhamos João Bénard da Costa no seu melhor: "O que Cristo diz a Madalena - e diz a nós todos - é que o Mistério da Sua Ressurreição é intocável. Mas que um dia também a carne, toda a carne, ressuscitará. Por isso mesmo diz o nosso credo "Creio na Ressurreição da carne" tanto quanto "Creio na vida eterna". Uma e outra não são separáveis para quem celebrar, nestes dias, a Páscoa da Ressurreição e a vitória sobre a morte".
E no meio de tudo isto tempo ainda para saber de mais tentativas, redutoras e irritantes, para fazerem de nós cristãos anti-semitas na nossa essência: aqui e aqui. A mim já me começa a cansar esta tendência...
Enfim foi uma Páscoa em, como já disse, fugi. Mas não de mim próprio nem dos meus nem da minha Fé. Uma boa Páscoa portanto. Dou graças por isso.

quarta-feira, abril 07, 2004

Apelo pascal a 6 amigos (e mais que sejam) 

Let´s start a catholic blog!
Cleared of beatific litterature!
We want something redblooded,
loud and pure,
reeking with stark
and fearlessly obstinate
but really clean.
Get what we mean?
And let´s not spoil it.
Let´s make it serious,
something authentic but delirious.
You know, something genuine,
like tears in a shrine.
Graced with guts
and gutted with Grace!
Squeeze your thoughts
and open your faith!

adaptado de e.e. cummings

terça-feira, abril 06, 2004

Outra vez o pecado original 

Concordo com o Fernando quando diz que "Não estarão as metamorfoses do pelagianismo mais vivas do que nunca?" O que não me parece que seja necessariamente uma má coisa, contrariamente ao que pensam tradicionalistas católicos e reformados calvinistas.
Já aqui falei das minhas dificuldades com Sto.Agostinho e com o seu conceito de pecado original e também com a ênfase que lhe é dada. Entendendo, como eu penso que se deve entender, Adão como uma pessoa colectiva, então o pecado original, a ambição do conhecimento do Bem e do Mal, a ambição de se ser como Deus, será a maior e mais perigosa das tentações e por isso eternamente susceptível de ser repetida por cada um de nós ao longo dos tempos.
Mas, por isso mesmo, existe em nós todos como uma possibilidade (enorme) de pecado mas não necessáriamente já como pecado pré-existente na nossa individualidade.
Para justificar o conceito tradicional de pecado original vejo serem citados muitos teólogos e doutores da Igreja, desde Paulo a Lutero, mas não vejo citada nenhuma frase proferida por Cristo. Ele diz, por todo o Evangelho, que veio salvar a humanidade dos seus pecados, dos quais enumerou e apontou muitíssimos. Mas, se não erro, eram todos pecados humanos, inerentes à nossa condição humana e gregária. Não me recordo de tê-Lo ouvido falar do pecado original.
Eu sei que esta pode ser uma afirmação pesada para alguns que me leiam, mas também eu me sinto algo próximo do hereje Pelágio no que diz respeito ao pecado original: acho que ele existe como possibilidade sempre presente, possibilidade que nos retiraria da Graça de Deus, mas não como ónus do qual poderemos não ser resgatados por muito que façamos.

Mas nós, simples fiéis, sejamos santos e não teólogos. Esses, mais do que ninguém, correram e correm o risco de cair na fatal tentação do conhecimento supremo do Bem e do Mal. Mas que Deus os proteja pois são eles que guiam a nossa razão rumo à fé.

Fontes 

O meu amigo Rui é um serviço público aqui na blogosfera. Para além do que ele próprio escreve, distribui doses diárias recomendáveis de boa poesia. Com o Rui, eu que definitivamente sempre pensei em prosa, fui-me habituando a descobrir que há coisas que em prosa não podem ser ditas. É por isso que todos os dias vou . Ontem ofereceu-nos uma prece de Nemésio que para mim não podia ter vindo mais a propósito e que transcrevo parcialmente:

Meu Deus, aqui me tens aflito e retirado,
Como quem deixa à porta o saco para o pão.
Enche-o do que quiseres. Estou firme e preparado.
O que for, assim seja, à tua mão.
Tua vontade se faça, a minha mão.


segunda-feira, abril 05, 2004

Meditação ingénua pós-leitura de “A mancha humana” de Philip Roth, ou o espectro de Coleman Silk, ou uma deriva calvinista deste católico José 

Ninguém é o que parece
mas, se olharmos bem,
toda a gente parece
aquilo que verdadeiramente é
e, apenas por isso,
merece sê-lo.

Podemos fugir,
libertarmo-nos de tudo,
dos outros, do mundo,
até de Deus.
Mas não nos libertaremos
nunca de nós próprios
e do Deus que está em nós.

Podemos transformar
a nossa aparência,
até a nossa substância,
mas não a nossa essência
pois esta vem de Deus.

Foi-nos por Ele entregue
e não a podemos negar.
Podemos tapá-la sob
a construção do nosso eu,
mas já perto do nosso fim,
antes de vermos a Deus,
Ele obrigar-nos-á de novo
a ver a nossa essência,
tal qual ela é,
tal qual não quisemos
talvez que fosse.

quinta-feira, abril 01, 2004

Escrevendo no chão 

5ºDomingo da Quaresma: Evangelho segundo S. João 8,1-11

"...os doutores da Lei e os fariseus trouxeram-lhe certa mulher apanhada em adultério, colocaram-na no meio e disseram-lhe: «Mestre, esta mulher foi apanhada a pecar em flagrante adultério. Moisés, na Lei, mandou-nos matar à pedrada tais mulheres. E Tu que dizes?» Faziam-lhe esta pergunta para o fazerem cair numa armadilha e terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se para o chão, pôs-se a escrever com o dedo na terra. Como insistissem em interrogá-lo, ergueu-se e disse-lhes: «Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra!» E, inclinando-se novamente para o chão, continuou a escrever na terra."

Esta fabulosa passagem da mulher adúltera e da "primeira pedra" é uma das mais significativas dos evangelhos pois é nela que Cristo nos mostra a misericórdia que quer imprimir aos nossos corações. Mostra também a visão de Deus sobre aquilo que deve ser a justiça. Pois Cristo não ignora a justiça: não diz que a mulher não deve ser lapidada. Mas também não diz que deve ser lapidada. Mesmo assim, Cristo acabou por fazer justiça pois para Ele a justiça não é um fim mas um meio, não é um instrumento de condenação mas um meio de salvação. Bom era que nós nos lembrássemos mais vezes disto.

Uma outra coisa que me chamou este ano a atenção nesta passagem é aquela ênfase na descrição da atitude displiscente de Jesus quando o confrontaram com esta situação: não se zangou com a hipocrisia dos fariseus, não os insultou mas também não deu grande importância à sua agitação; simplesmente inclinou-Se e pôs-Se a escrever no chão! Várias vezes pensei em qual seria o significado profundo desta atitude. Parece-me hoje que se destinou simplesmente a mostrar aquilo que Deus sente perante o zelo formalista dos que falam em seu nome mas esquecem a Sua Palavra: pura indiferença.

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