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terça-feira, setembro 28, 2004

Δωρεάν Καταχώρηση 

Η Δωρεάν προβολή σας θα ενεργοποιηθεί το αργότερο σε ημέρες από την καταχώρησή της. Γνωρίστε τους Χρυσούς Οδηγούς που καλύπτουν όλη την Ελλάδα. Για να σας συμπεριλάβουμε στη λίστα καταχώρησης χωρίς κόστος, μπορείτε να μας τηλεφωνήσετε στο. Εναλλακτικά μπορείτε να συμπληρώσετε τη φόρμα, που ακολουθεί. Σε ειδικές περιπτώσεις μπορούμε να επικοινωνήσουμε εμείς μαζί σας για να εξακριβώσουμε τα στοιχεία σας. Για την καταχώρησή σας χωρίς κόστος εντός Ελλάδος θα εμφανίζεται μόνο το σταθερό σας τηλέφωνο.

segunda-feira, setembro 27, 2004

Vou ali e já venho 

Estou agora mesmo prestes a arrancar para Atenas. Não para apoiar os nossos paralímpicos, não para me converter à fé ortodoxa, nem sequer para fazer turismo. Vou pela mais inverosímil das razões para lá ir: em trabalho! Mas não me invejem: Atenas não passa afinal dum enorme subúrbio a cercar o Parténon. A ver vamos se tenho tempo de lá dar um saltinho, conveniente nestes tempos socráticos. Lá para o fim da semana devo estar por cá novamente.
Mas o que eu queria mesmo é mandar-vos todos à Terra da Alegria, hoje com textos notáveis do Marco, Zé Filipe e do Bernardo. Já imprimi para ler melhor no avião.

sexta-feira, setembro 24, 2004

Novo Testamento 

Ainda do mesmo livro de que falei há pouco:

Foi assim que o vi uma vez acabar um retrato de mulher. Ela não era nem jovem, nem bela, nem rica, muito ao contrário. Havia porém qualquer coisa de irradiante nos seus olhos, no seu débil sorriso, em todo o seu rosto.
- Ontem - contou-me Assur - estava ao pé da fonte do Profeta, que alimenta uma incipiente nora e que corre de maneira parcimoniosa e intermitente, de modo que se produziam frequentemente desordens quando a torrente se decidia a surgir límpida e fresca. Na última fila estava um velho enfermo que não tinha a menor possibilidade de encher a panela de cobre que estendia a tremer para o bocal. Foi então que a mulher, que tinha acabado de encher a sua ânfora, se dirigiu para o velho e partilhou a sua água com ele. Não era nada. Não passava de um gesto de amizade ínfima entre uma humanidade miserável onde acontecem todos os dias acções sublimes e atrozes. Mas o que é inolvidável foi a expressão desta mulher a partir do momento em que viu o velho até quando o deixou, após ter feito o seu gesto. Trouxe este rosto na minha memória com fervor, depois, recolhendo-me para o guardar vivo dentro de mim o mais tempo possível, fiz este desenho. Está aqui. E que é isto? Um fugitivo reflexo de amor numa existência de amargura. Um momento de graça num mundo implacável. O instante tão raro e tão precioso em que a semelhança contém e justifica a imagem, segundo a expressão de Baltasar.



Antigo Testamento 

Há cerca de 15 anos houve um livro que me reavivou uma religiosidade quase perdida: "Gaspar, Belchior e Baltasar" de Michel Tournier (ed.pela D.Quixote). Conta sobretudo a histórica de Taor, o mítico 4º rei mago, que chegando atrasado ao Menino, andou toda uma vida pela Palestina à procura Dele e finalmente encontra-o já à beira do Calvário, morrendo quase ao mesmo tempo que Ele. Em Dezembro do ano passado já aqui tinha falado deste Taor.
Mas não é dele que venho falar, é mesmo do livro de Tournier que nos conta também dos outros magos. É um livro belíssimo que me puz a reler dum trago esta semana. E queria então partilhar uns trechos que ontem como há 15 anos me marcaram.

Depois (Baltasar) ergueu-se e pronunciou umas palavras que retive apesar da sua obscuridade:
- Nunca será demais meditar nas primeiras linhas do Génesis: Deus fez o homem à sua imagem e semelhança. Porquê estas duas palavras? Que diferença haverá entre imagem e semelhança? É que, sem dúvida, a semelhança compreende todo o ser - corpo e alma - enquanto que a imagem não é mais do que uma máscara superficial e talvez enganadora. Durante o tempo que o homem permaneceu tal como Deus o fizera, a sua alma divina transverberava a sua máscara de carne, porque era puro e simples como um lingote de ouro. Nessa altura a imagem e semelhança proclamavam em conjunto um único e mesmo atestado de origem. Podiam dispensar-se as duas palavras distintas. Mas desde que o homem pecou, desde que tentou através de mentiras escapar à severidade de Deus, a sua semelhança com o seu criador desapareceu, não ficando mais do que o seu rosto, pequena imagem enganosa que lembrava, apesar de tudo, uma origem longínqua, escarnecida, mas não de todo apagada. Concebe-se todavia a maldição que fustiga o rosto do homem através da pintura e da escultura: estas artes fazem-se cúmplices de uma impostura celebrando e propagando uma imagem sem semelhança. (...) Talvez um dia o homem caído seja resgatado por um salvador. Então a sua semelhança restaurará a imagem(...)


Tendo sido criados à imagem de Deus, fomos semelhantes a Ele até ao momento que deixámos de o ser. Cristo, Deus encarnado, veio junto de nós, para atestar que a condição humana pode aspirar de novo à semelhança com Deus. Por forma a que as duas palavras voltem a significar o mesmo. Por forma a que "Deus seja um connosco e nós com ele".


quarta-feira, setembro 22, 2004

Alerta amarelo 

Não, não estou a falar do alerta do INEM para o sul do país. É que descobri há dias uma coisa nova: um blogue que não será islâmico mas é islamófilo e onde se escrevem coisas certíssimas. Estou a falar do alerta amarelo. Eu, que não quero que a coisa passe a alerta vermelho, sou dos que acham há muito tempo que devemos conhecer muitíssimo melhor o Islamismo. Para sabermos separar o trigo do joio. Chamo particularmente a atenção para este post. Mando-lhes daqui um abraço.

Providence 

Mais um nº de 4ªfeira da TdA. Onde o Miguel nos conta como já chegou à Madeira e nos explica que no fundo, todos lá já chegámos ou chegaremos. A não ser que. Onde o Carlos faz um desabafo. Onde o Timshel nos começa a explicar como imagina Deus...através dum jogo de salão. Onde eu falo de cadeira sobre infalibilidades ex-cathedra. E, atenção por favor, onde o Fernando nos oferece um dos mais belos textos que eu tenho lido sobre a hoje tão mal entendida Providência. O Rui, esse, continua ausente em parte certa.

terça-feira, setembro 21, 2004

A mancha humana 

Hoje, melhor do que parar por aqui, é obrigatório ir ler um grande, enorme post nas partículas elementares. Para enterrar de vez o doce maniqueísmo.

segunda-feira, setembro 20, 2004

Bengel...quê? 

Por Outubro de 2003, andava eu a circular pela blogosfera quando cheguei a um bicho então famoso, o escala-estantes, mantido por um tal Vincent Bengelsdorff que me remeteu logo para uma coisa nova: um blogue familiar. Desde então os Bengelsdorff passaram a ser lidos por mim todos os dias, o Vincent, o David e mais raramente o Cosme e o James, todos irmãos mas decididamente não gémeos. A minha curiosidade foi sendo progressivamente aumentada e satisfeita. Acabei por descobrir que eram evangélicos, que aqueles nomes eram nicks, que com um deles eu vinha já mantendo longas conversas teológicas via mail, que eram amigos do Tiago, que eram também uns Animais. Descobri até que tinham uma mãe que é uma grande e simpatiquíssima senhora.
E pronto. Ficaram-me no gôto até hoje. Penso que nunca lhes disse a eles o que mais gostava no seu blogue: é que ali sente-se haver uma família como é bom que elas o sejam, ali sabe-se e gosta-se de se ser filho, ali percebe-se a importância e o gozo imensos que resultam de se ser pai. Fizeram hoje um ano de blogue. Ainda bem.

Terra a terra 

Hoje na Terra da Alegria a Marvi fala-nos da maior de todas as tristezas, da maior de todas a dores. E, apesar de tudo, "antes, do último banco, os seus olhos fitavam o Sacrário como quem enfrentava um inimigo. Agora, caminha entre os bancos e vai confiante sentar-se no primeiro. Sabe que é amada, que Ele está com ela". Este trabalho da reconstrução a partir do sofrimento é decididamente a maior dádiva que nos vem da Fé.

Mas temos também o Marco a partilhar a oração favorita da sua fé bahá´i. Lembra-me a nossa Magnificat: "A minha alma glorifica o Senhor e o meu espirito se alegra em Deus, meu Salvador.(...)A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem. Manifestou o poder do Seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias.(...)" Não deve ser por acaso...

E temos também o Luís Almeida, um dos primeiros leitores da TdA, que enviou um belo comentário sobre a tão famosa quão pouco lida "carta aos bispos sobre a colaboração do homem e da mulher na Igreja e no Mundo".

sexta-feira, setembro 17, 2004

Back to Earth 

À apresentação da minha declaração anual sucedeu-se uma semana improdutiva mas gratificante e inesperadamente carregada de mensagens e alusões imerecidamente encomiásticas. E também um aumento de tráfego para níveis estratosféricos, quando comparados com a pacatez habitual aqui do Guia. Está claro que quase todos estes novos visitantes depois de terem lido as minhas entediantes reflexões, rapidamente voarão para paragens mais excitantes. Mas quanto às mensagens devo confessar que me sobreaqueceram o ego, talvez a ponto de roçar a cabotinice. Agora lá que fico grato isso fico. E assim sendo terei de mencionar o Fernando Macedo, o David Bengelsdorff, o Tiago Cavaco, o Samuel Úria, o Nuno Guerreiro (exageraste, pá!), o Lutz, o Filipe Alves, o Zé Filipe, a Rosário (sim, você mesma!), o Marco, o J.Miguel Sousa, e ainda outros que não conhecia.
Mas é bom não perder o sentido das proporções: o que raio significa um ano de blogosfera? O tempo despendido? A quantidade de prosa? Se pensar no Pacheco Pereira e mais os seus 4 ou 5 blogues, todos excelentes, todos interessantes e todos densos, penso que um ano aqui do Guia equivale a menos de um mês de blogosfera do JPP.
Por isso mais vale regressar à Terra.

quarta-feira, setembro 15, 2004

Terra Nova 

A primeira de uma série de "cartas da Madeira" a contar-nos umas coisas tristes. Tristes não, vergonhosas. Uma terminologia nova para o pecado original: um bug que permanece em nós. A renovada mas esquecida necessidade de descriminação, a descriminação do mal. Woodstock revisited, ou a irracionalidade sagrada de Cristo. Que leva a gritar contra a chuva em vez de procurar abrigo dela. E, por fim, eu permito-me dar a uma r.i.p.ada tanatológica na nossa Santa Madre. Tudo isto, e não é pouco, no sítio das quartas-feiras.

terça-feira, setembro 14, 2004

Posta mista 

Hoje o technorati e o mail do sapo trazem-me um inusitado afluxo de palavras simpáticas embora exageradas. Este humilde blogger a todos agradece.

Ontem andei ausente em parte incerta pelo que não disse nada sobre mais uma excelente edição de 2ª feira da Terra da Alegria, com excelentes textos do Marco, do Filipe e do Zé Filipe. Aconselho vivamente um salto até lá.

A propósito do Zé Filipe, não quero deixar de referir uma citação dum extraordinário texto do Umberto Eco que ele há dias colocou no seu excelente blogue:

Se eu for crente, acharei sublime que Deus tenha pedido ao seu próprio filho para se sacrificar pela salvação de todos os homens. É essa a especifidade do cristianismo -- e não o facto de o cristianismo primitivo ter passado sete ou oito séculos a discutir se Cristo era dotado de uma natureza unicamente humana ou unicamente divina, ou de ambas, e quantas pessoas vontadesele incarnava... Tudo isso se nos afigura como jogos teológicos completamente inúteis, mas o desafio reside precisamente em apreciar este mistério: como, de que maneira, pôde Deus fazer isso por nós? Mas, se eu considerar que Deus não existe, então a questão tornar-se-á ainda mais sublime: com efeito, tenho de me perguntar como é que uma parte da humanidade teve bastante imaginação para inventar um deus feito homem, que aceitou deixar-se morrer por amor da humanidade. Que tenha sido possível que a humanidade concebesse uma ideia tão sublime, tão paradoxal, sobre a qual se constrói uma enorme intimidade com a divindade, leva-me a sentir enorme estima por ela. É certo que esta humanidade fez coisas horríveis, mas soube inventar isto! Mesmo que Deus não exista, ela soube inventar um romance extraordinário.

(do livro O fim dos tempos, conversas com Stephen Jay Gould, Jean Delumeau, Jean-Claude Carrière, Umberto Eco, edições Terramar)

Esta ideia do "é muito bom ser crente mesmo que Deus eventualmente não exista" é uma ideia que tenho há muitos anos embora costume guardá-la para mim pois pode dar a ideia errada que não tenho uma fé profunda. Acontece que enquanto que o Objecto da minha Fé é algo que eu sei que irei encontrar apenas depois desta vida, já as vantagens de ter fé isso é algo que eu sinto já e aqui, todos os dias. Um dia, o meu amigo Timshel disse uma coisa extrordinária: "Poder-se-ia pensar que, em resultado das minhas convicções católicas, a certeza fundamental (...) seria a da existência de Deus. Não. A certeza que eu considero fundamental e axiomática é a de que nos devemos comportar como se Deus existisse".

sábado, setembro 11, 2004

Modelo vinte e dois 

Era também 11 de Setembro e todos relembravam aquilo e falavam do choque de civilizações e de guerras de religiões e de fundamentalismos islâmicos, cristãos, judaicos, enfim, o diabo. E eu, que vinha matutando solitariamente na minha fé, no diálogo inter-religioso e noutras coisas amenas para me distraír duma situação arrastada e frustrante que me moía o juízo, resolvi começar a pôr por escrito aquilo em que pensava, de preferência num sítio de passagem. E entre afixar cartazes em tapumes ao lados daqueles cartazes da gnose, das quintinhas no Bombarral e dos catálogos de sex-shops e pôr uns posts num blogue, optei por esta última possibilidade, então muito mais na moda. Foi então e assim que dei início a isto.

E esta coisa acabou por ocupar um lugar inesperadamente importante na minha vida. Num ano extremamente difícil para mim em muitos aspectos (ainda assim não os mais importantes), isto funcionou para mim como um refúgio, um ansiolítico, um motor de reflexão, um escape, uma inspiração, um estímulo para tentar ser de acordo com aquilo que escrevo. Em suma e afinal, um guia. Guia para mim próprio, que de um guia bem precisava e preciso ainda. Mas não se diga que tenho a pretensão e o orgulho de me guiar a mim próprio. De forma alguma. Como não quero passar por beato ou por místico ou por cristão carismático, vou dizer-vos isto bem baixinho: aqui como em nenhum outro lado tenho sentido, ao escrever, uma coisa estranha, difícil de definir, que parece por vezes iluminar-me o pensamento, embora outras vezes se cale num silêncio persistente. Como tenho fé penso que seja o Espírito Santo.

E há outra coisa. Este guia guiou-me até pessoas que são hoje verdadeiros amigos, embora não os conheça na sua grande maioria: o Fernando, o vizinho, o Carlos, a Conceição, o Tiago, a Maria, o Pedro, o João e a Viviana, o Tim, o Rui e o Miguel, o Lutz, o Marcus e o Marco, a Rosário, o Samuel, o Paulo, o Nuno, o Bernardo, o Filipe e o Zé Filipe, o outro Tiago, o Walter, a Milene e outros mais. Neste Balanço e Demonstração de Resultados são eles os melhores activos. Graças a Deus, que nos inspira a todos.

Continuemos pois.

sexta-feira, setembro 10, 2004

Salvação vs. Revolução  

A apologia do comunismo e da União Soviética pelo Timshel na última TdA levou a que este meu estimadíssimo conterrâneo tenha repescado hoje uma antiga conversa que, em Novembro de 2003 eu e o CC tivemos quando este militava ainda na excelente e saudosa Quinta Coluna. Conversa essa iniciada a propósito de um post sobre Cunhal e Saramago!
Talvez seja então esta a oportunidade que eu vinha esperando para começar a explicar a estes meus amigos e confrades que, ao contrário da sua visão que eles tem vindo a expôr abundantemente na Terra da Alegria bem como nos seus respectivos blogues, eu discordo em definitivo que apenas a ideologia de esquerda seja compatível e coerente com o catolicismo que há em nós.
Isto será certamente assunto não para um mas para vários posts, que irei fazendo conforme me fôr humanamente possível (que saudades tenho da disponibilidade mental e temporal de outros tempos...).
Para começo de conversa e repescando também o que em Novembro eu disse ao CC, devo confessar que, como o Timshel e como o CC, também eu tenho efectivamente admiração pelos comunistas, pela sua honestidade, pela dignidade de homens que lutaram toda uma vida por um ideal que os transcende. Custa-me vê-los aviltados, troçados e menosprezados pelo facto de os seus ideais se terem dissolvido pela sua mera impossibilidade. Sobretudo porque os seus maiores críticos, que estão na Esquerda e não na Direita, teriam sido os primeiros a saudar os amanhãs que cantam se, porventura, eles tivessem mesmo cantado.
Porém, a minha admiração e simpatia tem sobretudo a ver com o facto de neles sentir o ethos do verdadeiro crente: acreditar sem ver, acreditar mesmo que tudo, no mundo e no homem, pareça a desmentir aquilo em que se acredita. Tem a ver também, com o facto de que nos verdadeiros comunistas, tal como nos verdadeiros crentes, a sua fé parece fazer aumentar a sua dignidade, a sua rectidão moral. Como disse na altura o CC: "uma vida impoluta, o trabalho sem cansaço, uma fé sem desânimo, a infalibilidade, a perfeição, a santidade". Claro que há muito comunista que não o é ou foi verdadeiramente, mas sim por razões espúrias ou por mera rotina. Também assim acontece nos cristãos.
Contudo, apesar de tudo isto , a mim a minha Fé não me faz aproximar da Esquerda e suspirar pela Revolução. Isto não soa certamente bem mas a minha Fé não me faz querer tranformar o Mundo. Ou melhor, faz, mas de um modo diferente. O que os comunistas quiseram foi mudar o mundo, mudar a sociedade para então mudar o homem, por forma a que os ideais da justiça, da fraternidade, da igualdade, da felicidade comum, pudessem prevalecer. Mas o homem não mudou, pois não queria mesmo mudar, por razão da sua natureza intrínseca. Por causa deste facto extraordinário e irritante, os émulos de Marx e Engels conceberam e criaram a ditadura do proletariado da qual decorreram naturalmente os gulags e outras práticas que perverteram totalmente o sentido e o objectivo profundos do comunismo.
Ora, na minha modesta opinião, a religião e a Fé não pretendem mudar o mundo. O fim último da religião é sim mudar o homem, mudar cada homem e cada mulher, para assim ser possível a sua salvação, para assim então ser possível um mundo melhor. Pois só mudando os homens em primeiro lugar é que se pode mudar o mundo. Se o meu percurso na Fé me mudar e me aproximar de Deus e, consequentemente, dos outros, se eu fizer minhas as suas dores e as suas alegrias, então sim, estarei a dar a minha contribuição, se calhar a única que me é possível, para mudar o mundo.
É por aqui que eu faço as minhas pontes entre a minha visão do mundo, a minha ideologia, e a minha fé católica. Vou explicar melhor: é através da ênfase na responsabilidade individual por si próprio e pelos outros em detrimento da responsabilidade colectiva por cada um de nós que a transformação desejada por Deus deve iniciar-se. Aliás, penso que a palavra de Cristo foi muito mais dirigida ao coração de cada pessoa do que à multidão. Cristo quis transformar cada coração, todos os corações, para assim elevar a condição humana no seu todo. A transformação da sociedade humana por efeito da palavra de Cristo decorrerá da transformação dos homens. Será uma consequência a que Deus e nós aspiramos. Mas definitivamente não me parece que seja o inverso.
Aliás a questão da responsabilidade individual é para mim absolutamente central nesta questão da esquerda e da direita. Entre os homens haverá sempre uma larga maioria que pretende ver-se livre dela e uma minoria, ambiciosa e voluntarista, que pretende assumi-la toda, sobre si e sobre todos os outros. E passado algum tempo, fatalmente, a noção de responsabilidade degenera em desejo de domínio. A tristíssima história do comunismo na União Soviética foi uma demonstração prática disso mesmo.
É precisamente aqui, neste ponto, que divirjo irremediavelmente da esquerda: para mim a responsabilidade individual (sobre mim e sobre o outro) é absolutamente indeclinável pois o ideal da responsabilidade colectiva serve sempre de pretexto para a outorga da nossa própria responsabilidade a uma entidade (o Estado) que mal controlamos e, muitas das vezes, preferimos nem controlar.
Mas já me estou a estender demais naquilo que pretende ser um primeiro post sobre o assunto. Pretendia para já e apenas, afirmar uma posição. Mais tarde irei tentar explicá-la melhor.
Queria terminar com uma palavra àqueles meus dois amigos: isto será um discurso defensivo e não ofensivo. O que pretendo é demonstrar a fé católica é compatível com a ideologia de direita. Que é compatível com a ideologia de esquerda e mesmo com o comunismo, isso já mo demonstraram vocês.

quinta-feira, setembro 09, 2004

dos Santos 

"Muitos homens deixam-se, ontem e hoje, vencer pelo desespero de não haver remédio contra a violência do mundo presente, excepto a fuga ou a destruição. Mas há outro remédio que está ao alcance de qualquer um, da mãe, do sábio, do camponês, dos jovens e dos velhos. Esse remédio é esta concentração do espírito activo, que o pensamento humano conservou através de tantas tiranias, e que o preserva ainda. Essa concentração espiritual é o que Jesus chamou a pureza do coração, a qual é a origem verdadeira do amor, da ciência e da fé. Assemelha-se a um rio indomável como indomável é o zelo dos santos. Hoje os santos são considerados como fanáticos, e realmente eles não permitem que ninguém os desvie dos seus objectivos. Mas, no caos da política humana, é através deles que chegamos à ventura e ao milagre: - de se ser um Homem."

Charles Morgan (Essay on singleness of mind)

quarta-feira, setembro 08, 2004

 

Continua inclassificável, graças a Deus. Hoje faz-se a apologia da União Soviética e dizem-se coisas elementares sobre a Sida e o preservativo. Fala-se de filmes com ursos e da figuração do Maligno. E eu explico porque sou um papa-missas. Confusos? Deixarão de o estar depois de ler este novo episódio!


(post editado às 10h22 e conseguido publicar às 00h45 do dia seguinte. este blogger é um borndiep...mas enfim nunca é tarde para darem um saltinho à TdA)


segunda-feira, setembro 06, 2004

"Comprem terra, pois já não se fabrica" 

Não é verdade. Fizemos férias mas continuamos a fabricá-la, como se pode ver de novo aqui.

Pérolas nas ondas 

7 anos no Tibete:

Ontem foi o Timshel que me pôs na pista de gente que, a propósito do aborto, faz a recensão antropológica de a partir de quantos anos uma criança é considerada como pessoa.

Abortem-no senão eu mato-o:

Hoje no fórum TSF, a mais sólida instituição discursiva do verbo nacional, ouvi algo de extraordinário. Uma senhora, com um discurso estruturado e voz já embargada pela comoção, invectivava o governo por ter tão brutalmente impedido as mulheres nas ondas de desembarcar, impedindo assim o diálogo sobre este assunto que afecta tantas e tantas famílias portuguesas. E a propósito de famílias, a dita senhora forneceu-nos aquele argumento que faltava em prol da liberalização do aborto: o aumento da violência doméstica sobre crianças no nosso país ! Já antevejo a notícia no 24 Horas: mulher acusada de ter espancado o filho de seis anos e meio foi posta em liberdade por ter conseguido demonstrar que, durante a gravidez da dita criança, pretendeu abortar tendo sido disso impedida pela retrógrada legislação em vigor. Também foi tido em consideração pelo MP o facto de no dia anterior à lamentável ocorrência, a dita senhora ter jantado no restaurante "Os Tibetanos".

Digo eu:

Cada vez me convenço mais de que deviam ter deixado atracar o barco. Se os paladinos da IVG argumentam assim quando oprimidos (já invocando subliminarmente o infanticídio...) como o fariam enquanto triunfantes? O barco atracado e a funcionar seria uma eloquente antevisão do aborto liberalizado. Estes meus colegas anti-abortistas andam pouco inteligentes! Nada que seja novo...


sexta-feira, setembro 03, 2004

Incontinente Vontade de Gritaria 

Definitivamente este é um país patusco. De costumes brandos mas de oratória inflamada. De gente de convicções definitivas mas que não se atravessa por elas. Vem isto a propósito desta tremenda polémica propósito do “barco do aborto” que veio à nossa orla marítima reacender a inefável discussão do aborto, ou melhor da IVG, que soa muito melhor. A palavra "tremenda" não define bem pois nada neste país é tremendo. Esse conceito só tem tradução prática para lá de Badajoz. Discussão ruidosa define muito melhor.
Os meus leitores, essa dúzia de pessoas impecáveis, já terão reparado que este é um tema a que eu tenho fugido, talvez porque as polémicas me enfadam terrivelmente. Mas desta vez vou falar sobre a coisa. Esclareça-se, a princípio, a minha posição de princípio: contra. Mas permitam-me umas reflexõezitas livres sobre o grande assunto da actualidade nacional.
Antes de mais, penso que se está a fazer quanto ao aborto o mesmo tipo de debate que marca geneticamente a nossa sociedade: a demarcação dos campos em posições extremadas e acantonadas, a misturada de argumentos ideológicos com argumentos técnicos e sociológicos relativos ao assunto, o atirar de parte a parte com dados, estatísticas, números, miríficos, indemonstrados e indemonstráveis, o uso incessante de processos de intenção, a total inexistência da procura da verdade em detrimento dum esmagador desejo de afirmar posições que muitas vezes pouco tem a ver com a essência do debate. Enfim, uma salganhada inestética e irritante. O Francisco José Viegas produziu uma vez uma boa designação para a técnica de debate em Portugal: a elocubração adversativa, esmagadora e omnipresente, na política, no futebol, na religião, na cultura, em tudo. Pela minha parte tentarei neste post não caír nisso. Não será fácil pois sou tão português como qualquer um...
Queixava-se há dias o meu bom amigo Miguel que a barragem feita ao “barco do aborto” configurava uma “interrupção voluntária do diálogo”. É uma expressão feliz mas incorrecta como se verificou, pois o diálogo, aquele único de que somos capazes, foi tão ou mais intenso do que se a dita embarcação tivesse pacatamente atracado no Jardim do Tabaco. Penso mesmo que assim a vozearia terá sido maior e que os defensores da liberalização do aborto terão preferido imensamente que tenha sido assim. Aquela é gente de causas difíceis, gente que assume com gosto o papel de vítima afrontada, gente que exulta com os abusos do poder instalado, abusos que lhes dão ânimo, animação e, sobretudo, assunto. E, já agora, não tendo o barco atracado, não se mostra àquela gente simples e estúpida que fez perder aquela oportunidade do referendo, o lado feio do que lá vem dentro. E evita-se o constrangimento da romaria à doca. E, sobretudo, evita-se o risco de aparecerem apenas duas ou três potenciais abortadeiras pois a clandestinidade do aborto clandestino lida mal com os holofotes das televisões. Talvez aparecessem umas militantes exaltadas e mediáticas dispostas a tomar a pílula abortiva mas duvido que igualmente dispostas a fazer um teste prévio de gravidez...
Mas não se pense que estou do lado daquela gente, também esbraseada, de muitos dos movimentos pró-vida. Essa gente também inquina a discussão e acaba por beneficiar a argumentação dos liberalizadores com a sua rejeição de tudo, do aborto, da contracepção, do sexo não procriativo. E com a sua incapacidade de propôr alternativas, de explicar porque não estendem a sacralidade da vida humana a outros aspectos também importantes da mesma.
No meio de toda esta confusão, em que eu também me sinto mergulhado, assisti na passada 3ª feira a um debate na RTP. Participaram nele uma doutíssima e muito jurídica Paula Teixeira da Cruz; uma Manuela, cujo apelido não me recordo, verdadeiro arquétipo da militante histórica pró-aborto, daquelas que se pudessem procriariam para poder exercer o direito básico de interromper voluntáriamente a sua gravidez; uma militante portuense pró-vida, também um arquétipo, pela indigência e catatonismo da argumentação; uma surpreendente Zita Seabra, a acertar contas com o seu passado ideológico; um sociólogo Pedro Vasconcelos, pró-IVG, feliz possuidor da verdade e titular de uma persporrência e uma arrogância deliciosas ou talvez irritantes; e finalmente uma pessoa séria, um Dr. Carlos Santos Gomes, médico ginecologista de longa prática e de raro bom senso.
Disse este senhor, que me pareceu globalmente favorável à despenalização do aborto, ou seja contrário à minha posição, duas coisas extraordinárias.
Uma é que, pela sua longa experiência, há muitos anos que o aborto clandestino deixou de ser um problema relevante de saúde pública. Dizia ele (quando o deixavam falar), que os defensores da liberalização da IVG, pareciam ignorar a evolução registada nos últimos 30 anos. Segundo ele, há 30 anos haviam efectivamente dezenas de milhares de mulheres em Portugal a praticar abortos nas mais sórdidas condições e milhares delas acabando por morrer ou ficar com sérias sequelas. Nesses tempos já distantes o planeamento familiar dava os primeiros passos entre nós e a contracepção era uma coisa difícil e cara de pôr em prática. Desde então com a enorme facilitação do acesso à pílula e mais tarde ao preservativo, a ocorrência de abortos caiu natural e drásticamente. Por outro lado as condições em que se pratica o aborto clandestino melhoraram por força do generalizado progresso sócio-cultural, independentemente de qualquer juízo moral sobre o mesmo. E, finalmente, perante a notória irritação dos pró-abortistas presentes (passe o abuso de linguagem), ciosos dos seus números catastróficos, este médico estimou o número anual de mulheres mortas em Portugal em consequência dum aborto clandestino, entre uma e duas!!!
E o pasmo aumentou quando este homem sério e incómodo, revelou um facto surpreendente: no final de contas a legislação portuguesa actualmente em vigor é praticamente igual à espanhola tendo esta sido inspirada na nossa!!! Perante a surpresa geral mas não assumida (toda a gente sabia isso afinal, traço tão português) o bom homem lá explicou que em Espanha houve profissionais de saúde que de forma clara e aberta assumiram o risco de praticar abortos ao abrigo da cláusula referente à condição psicológica da grávida criando assim jurisprudência que dá cobertura legal às míticas clínicas de além-fronteira. Ou seja, em Portugal seria legalmente possível fazer o mesmo que em Espanha...extraordinário!!!
Acontece que a malta em Portugal é um bocado maricas: gosta-se de exibir convicções mas não de as pôr em prática de forma aberta. Prefere-se esperar por uma liberalização total para assim não haver nenhum risco. Eu, que me repugna o aborto, acho bom que assim seja...
Mas não é só por isso que chegámos a esta situação ridícula. É que uma parte interessante da nossa esquerda pela-se por uma boa causa, fica-lhe bem na lapela, ajuda à pose vanguardista. E nestes tempos difíceis, causas são cousas que vão rareando. Por isso, há que cuidar das causas que restam, regá-las e adubá-las bem, para que se mantenham, para que mantenham elas a malta animada. Já dizia o grande Sérgio Godinho (ou seria o Zeca Afonso?): o que faz falta é animar a malta!
Mas perguntarão vocês quais são afinal as razões de eu ser contra a liberalização do aborto. Pois. É 6ªfeira, já é tarde, esperam-me em casa, já estou cansado. Fica então para a semana. Mas deixem-me terminar repetindo uma coisa que escrevi em Janeiro, tempo das petições para novo referendo sobre o aborto:

20 boas e verdadeiras razões para se votar sim no referendo do aborto:

Porque é de esquerda
Porque é um direito a mais que conquistamos
Porque é um dever a menos que suportamos
Porque os países civilizados tem
Porque é sinal de modernidade
Porque a Igreja é contra
Porque é mais uma causa
Porque é o principal problema deste país
Porque assim está-se mais à vontade
Porque assim controlo melhor o meu destino
Porque a barriga é minha e só lá está quem eu deixo
Porque já andamos nisto há uma data de tempo
Porque eu choro e os fetos não choram
Porque até fica bem no currículo
Porque me convém
Porque é mainstream
Porque é mais um passo
Porque eu quero
Porque eles não querem
Porque sim


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